sexta-feira, 24 de março de 2017

Ouvir é amar




Ela agradecia de olhos enublados todo o carinho e atenção que lhe fora dado, em momento tão difícil da sua vida e disse-lhe: obrigado por ter escutado os meus desabafos, pelo seu apoio e seu amor, Ao que ele respondeu: eu só a estive acompanhando e ouvindo sua estória. Ela olhou-o e pausadamente disse: ouvir é a melhor forma de amar.

Penitencio-me porque nunca soube ouvir assim tão bem.

dc

sem nos darmos tempo





Sinto que o tempo me foge e nada sei como travá-lo, a única coisa que sei, é que perdemos o nosso tempo sem nos darmos tempo de ir mais longe. Inventamos desculpas, mentiras suaves, protelamos a experiência de viver e depois acusamos o tempo de ele decrescer.
Quero lembrar-me da última vez em que tivemos o nosso tempo, e reparo, que já passou tanto tempo, que pouco me lembro da razão dos por quês e da distância.
O relógio não pára, os dias, os meses e os anos se vão, o que nos retém é este mundo de enganos que sustentam a falsa esperança num mais além.
Diz-se: “não deixes para amanhã o que podes fazer hoje”, mas sempre nos esquecemos pela preguiça que nos tolhe. Se não decidimos, com medo de errar, ficamos com pouco tempo de procura para podermos acertar.


dc

domingo, 19 de março de 2017

Não, não queria



Não, não queria
que teus olhos fugissem,
que a tua boca sumisse,
que os teus braços se fechassem
sem me teres no teu abraço.

Não não queria
esta saudade tamanha
que me traz o cansaço
me toma e deixa vazio

Não, não queria
sentir-me frio,
sem esse teu abraço,
sem o teu desejo,
sem mais um beijo

Não, não queria
esta dor fininha,
como agulha no peito,
que dentro se agiganta
e me aperta a garganta
num nó perfeito

Não, não pensaria
que algum dia,
de modo imprevisto,
acontecesse tudo isto
Ficasse sem teu abraço,
sem teu beijo e desejo,
e só restasse a memória
e o cansaço.

dc



sexta-feira, 17 de março de 2017

À superfície



Se declaram amados, à superfície, sem mais do que toque de pele, o beijo furtivo, a carícia atrevida, Agarram-se aos olhos verdes, azuis ou castanhos, ao rosto quadrado, redondo ou angular, ao corpo redondo, esguio ou modelado, à roupa vestida, ao sapato, ao chapéu, ao telemóvel, quanto ao resto, que compõe o “bouquet” é esquecido, A inteligência, a cultura, os valores...são os resíduais, que só na hora da separação são apontados como importantes e como falhas para justificar o fracasso.
Na verdade à primeira vista, o que se vê é importante, é a primeira impressão, assim como próprio cheiro, talvez a razão do enleio e da tal paixão, mas não será o resto, as tais coisas residuais, que farão certamente que essa paixão se transforme em amor e tenha a consistência, do nós, que sempre procuramos?


Hoje deu-me para isto

dc