Alterando a rotina, resolvi almoçar fora. O restaurante escolhido, sofrera remodelação havia pouco tempo, tinha agora uma fachada mais fresca. Azar, fachada fresca, interior comum, comensais, os habitués. As mesas e as cadeiras em tubo redondo de ferro, pintadas de preto e com tampos de fórmica, eram iguais aos milhares que por aí existem, nos tascos e confeitarias, que foram “renovadas”(?). Os empregados com camisas personalizadas, de trejeitos personalizados pelos hábitos repetitivos, ou seja, barrigona saliente com o botão junto ao umbigo a querer rebentar e uma ponta da fralda a querer saltar.
O ambiente que o enchia era o retrato de um filme feliniano. A gente que sempre o frequentou. Rostos pesados, desarticulados do corpo. Homens jovens e de meia idade que trabalham em dia feriado, com roupas manchadas pelas marcas da profissão. Homens idosos, reformados, com sorrisos apatetados e roupas domingueiras, casais jovens com filhos, que aproveitam o feriado indo comer fora, sem estragar o orçamento, deixando as crianças felizes. Emigrantes que “fazem flores”, comendo no tasco, como se fosse o famoso “Tavares”. A ementa era reduzida aos pratos comuns lombo assado, febras e bifes com batatas fritas, cozido à portuguesa, etc.
Pedi pá de porco, que veio servida numa travessa que dava para encher, de uma só vez, o prato, tinha o sabor dos velhos tempos, do mal o menos. O vinho fazia lembrar aquele dito, “às vezes até de uvas se faz vinho”, tinha álcool, mas sabia a nada. De nada valera refrescar o edifício, tudo cheirava a anos setenta no seu pior. Não dei por mal empregue, este bocado. Enganei o estômago, e pude ver um filme sem pagar entrada.
Fiquei a pensar “ porque razão fazer obras só para “lavar a cara” sem perspectiva do que se quer alterar e mostrar? Que raio de arquitectos, ou decoradores, esboçam um projecto destes sem ter em conta que a mudança de paradigma é importante, e que não é trocando cadeiras e mesas de madeira por metal
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