domingo, 15 de janeiro de 2012

A FENDA

Ambos viviam uma relação próxima. Sempre foram amigos coloridos. Desde tempos imemoriais, que se descobriram e foram importantes na construção de um mundo melhor. A intimidade era obrigatória e a dependência em termos práticos era bastante grande. Mais ela do que ele. Ele era um pouco, “Pau para toda a colher”. Na realidade, dizia ele, era a sua funcionalidade, daí prestar assistência, a múltiplas almas, das mais variadas aplicações. Era muito macho e o seu corpo excessivamente fálico variava de volume, tendo em conta as exigências a que tinha de ser submetido.
Não era um giglô, era sim um amigão capaz e disponível, para que nada lhes faltasse, e, para que elas próprias sentissem que a satisfação do seu ego seria posta no tope das exigências, fazendo-as felizes e úteis. Ao contrário dele, elas mais estáveis, podiam permanecer tempos infinitos no mesmo lugar, sem se preocuparem, nem com as relações exteriores a que ele se debutava, nem a sair do seu espaço. Embora por vezes o fizessem, por razões não propriamente pessoais, mas simplesmente para ajudar. E aí, ele voltava, e as satisfazia novamente com todo o seu potencial e vigor. Seria possivelmente, a única relação de amor funcional, jamais vista.

Ela não tinha um corpo especial, como todas as do seu género. O importante era estar de acordo com as intenções que ambos serviam, e para as quais se sentiam devidamente habilitados. Tinha carnes rijas, e não seria o seu uso, ou o passar dos anos, que a iriam debilitar. Ela era forjada de material de primeira não fosse o diabo tecê-las e na primeira arremetida, se deixar quebrar ou ceder. Mentalmente estava preparada para o tipo de amor que a sociedade escolhera para si. Orgulhosa da qualidade com que a mimaram, desde que nascera, sentia-se mais do que protegida para todas as intempéries.

A verdade é que aqui nesta relação comummente aceite, não havia nem ciúme, nem machismo, era amor puro e duro. Sem controlo de chegada, ou partida, nem desconfianças que abalassem a relação. Embora sem filhos para dar continuidade ao seu amor, sempre se entenderem e contribuíram para que o mundo fosse melhor e evoluísse.

Pode-se por isso pensar, que o amor, ou a forma como se ama, tem muitas nuances e nem sempre o que está estabelecido como regra serve, de igual modo, para o bem estar.


Sempre que comprar um a caixa de parafusos, pense sempre, na necessidade de comprar uma “Chave de parafusos” adequada à cabeça do parafuso, e à necessidade do que está indicado
para fenda para que não seja facilmente estragada e que cumpra a sua função.

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