terça-feira, 24 de abril de 2012

VÉSPERAS DE UM OUTRO ABRIL


Hoje é véspera das comemorações do 25 de Abril. Se é um facto que a revolução trouxe aos portugueses um novo acreditar nos homens, na verdade, é que passados estes anos todos ficamos com a ideia de que alguns homens, se aproveitaram a ingenuidade do povo, para assumirem um papel para o qual nunca estiveram talhados e que acabaram por destruir a oportunidade única de Portugal ser um país a sério.

No que se refere aos homens que lideraram o movimento militar, alguns rapidamente abandonaram o processo, de forma quase ingénua, acreditando que a democracia implantada na altura, impediria o retorno ao passado. Os outros, da área política, preocuparam-se mais em servir as suas filosofias pessoais e de grupo, em detrimento do povo que diziam defender. Destes, como se pode hoje observar em retrospectiva, assumiram grande protagonismo, do qual se aproveitaram, para se colocarem nitidamente do lado daqueles que a revolução levara a fugir por estarem envolvidos com o Estado Novo.
Dois desses senhores políticos famosos chegaram a Primeiro Ministro e à Presidência do pais com as consequências que hoje se conhecem. Entrega das expropriações legitimamente feitas, a terras não cultivadas e de empresas que os trabalhadores mantiveram activas, após o abandono dos seus proprietários, premiando-os com indemnizações chorudas, para que tudo viesse a ficar como dantes. Em alguns casos, como nas zonas da reforma agrária, resultou em novo abandono das terras, e a sua venda posterior e com os resultados que se sabem, voltamos a depender, em grande parte, de importações agrícolas. E em outros casos, empresas entregues aos patrões que rapidamente as levaram à falência, com o consequente desemprego onerando as despesas do país.

De um período revolucionário, de grande criatividade, melhor qualidade de vida, maior enriquecimento cultural, maior participação dos cidadãos, estamos hoje reduzidos por um espartilho político ditatorial de um governo que serve os interesses dos capitais e políticas dos senhores do dinheiro, a um povo sem auto estima, submetido novamente ao medo do poder e do grande capital. Com um grande número de desempregados, com condições de vida que atingem os limiares da pobreza em muitos dos portugueses e com um governo que pretende em nome da crise acabar, com todos os direitos que a revolução nos trouxe, tentando impor ao povo, o bafio salazarento de tão má memoria.

É importante que o povo português saiba do seu poder e da sua capacidade para mandar na roda do progresso e da história, para que novamente coloque o carro nos carris do progresso e da democracia. Para tal temos de perder o medo e avançar com todas as formas de luta, legitimadas pela indignação e pelo direito a ter uma sociedade melhor, mais solidária e com benefícios de todos e não só de alguns.

É preciso que o povo, como no período da Revolução de 25 de Abril, reconquiste a liberdade, defendendo os seus direitos nas empresas, nas escolas, universidades, nos seus sindicatos, associações profissionais, culturais, e muitas outras.

Não só devemos dizer que temos de defender a Abril, mas também, que estamos dispostos a fazer uma outra revolução com data a marcar urgentemente.

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