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terça-feira, 25 de setembro de 2012

EnQUANTO DOrmIA


Enquanto ela dormia, ele roubava através de linhas e cores a presença de seu corpo. Fixava o instante possível, que a luz do amanhecer, através da janela semi-aberta, permitia ver.

Talvez não conseguisse captar todos os ingredientes visuais ou emocionais naquela imagem, mas restaria o essencial que motivara a urgência de a passar ao papel, mesmo que este não fosse o mais apropriado.

O registo permaneceria pelos tempos fora, mesmo que as memórias, já gastas, o atraiçoassem.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

NO ROSTO FECHADO DA MANHÃ


Sentado no café, como sempre, bem cedo, fiquei olhando através da vidraça a azáfama das gentes, que no corre-corre diário se deslocam para os seus múltiplos afazeres. E penso, coisa que ainda não tem qualquer taxa.

As pessoas transportam a angústia e o desalento no rosto fechado da manhã.

Não há alegria num povo que se sente amordaçado, pelo receio de perder o emprego, de não ter dinheiro para pagar os seus encargos mensais, de não saberem como alimentar-se com tão escassos recursos. Gente nova sem trabalho, desempregados nas filas do Centro de Emprego para o controlo. Gente idosa que deambula pelas ruas, sem eira nem beira, revistando caixotes à procura de objectos para vender ou, em alguns casos, alimentos.

As notícias nos media são ridículas. Os jornalistas sem espinha, defendem a voz do dono, e escrevem notícias que não revelam a verdade, ou dão parecer favorável às políticas dos governos e do capital financeiro que tudo domina.

Fala-se em democracia, e podemos perguntar, qual? A democracia da fome e miséria, do desemprego, das reformas chorudas, dos indivíduos que ganham ordenados vultuosos à custa do “Zé pagode”? De um SNS que piora a toda a hora e com taxas moderadoras que limitam cada vez mais a Saúde para todos, como diz a Constituição da República. Esta democracia, a única coisa que nos permite, ainda, é gritar e falar para o boneco.

É esta impotência perante a injustiça que vai calando dentro de nós, que nos tira a vontade de sorrir, e põe a grande maioria dos portugueses apatetados, olhando as telenovelas, sem se aperceber sequer da qualidade dos seus conteúdos. Para os programas diários da manhã das TVs, que parecem o Natal dos hospitais, ou para o futebol e as futeboleiras e chatas discussões sobre o mesmo ou, no pior, os Big Brothers da promiscuidade, que dizem, o povo tanto gosta, como se as audiências não fossem fruto da exploração da ignorância e falta de cultura das pessoas.

Antes de Abril de 1974, no S. João, aproveitavam-se os bailes de “bairro” para dançar, e na noite da véspera aproveitávamos as rusgas enormes para cantarmos a cada momento canções revolucionárias, que arrancavam sorrisos e gargalhadas das pessoas, como se fossem uma libertação. No meio da algazarra distribuíam-se panfletos subversivos. Mesmo correndo o risco de ser presos, havia a alegria de fazer algo de positivo para levar a esperança a todo um povo debaixo da repressão, e sorríamos por saber que não nos paravam a luta.

Neste país, se não ouvirmos algumas vozes discordantes que vão aparecendo e nos vão abanando, ajudando-nos a lutar e resistir, perderemos o sorriso, a alma e tudo o mais. E nesse caso, o melhor é um dia destes encomendar a alma ao criador, porque aqui já não vale a pena ficar

terça-feira, 24 de abril de 2012

VÉSPERAS DE UM OUTRO ABRIL


Hoje é véspera das comemorações do 25 de Abril. Se é um facto que a revolução trouxe aos portugueses um novo acreditar nos homens, na verdade, é que passados estes anos todos ficamos com a ideia de que alguns homens, se aproveitaram a ingenuidade do povo, para assumirem um papel para o qual nunca estiveram talhados e que acabaram por destruir a oportunidade única de Portugal ser um país a sério.

No que se refere aos homens que lideraram o movimento militar, alguns rapidamente abandonaram o processo, de forma quase ingénua, acreditando que a democracia implantada na altura, impediria o retorno ao passado. Os outros, da área política, preocuparam-se mais em servir as suas filosofias pessoais e de grupo, em detrimento do povo que diziam defender. Destes, como se pode hoje observar em retrospectiva, assumiram grande protagonismo, do qual se aproveitaram, para se colocarem nitidamente do lado daqueles que a revolução levara a fugir por estarem envolvidos com o Estado Novo.
Dois desses senhores políticos famosos chegaram a Primeiro Ministro e à Presidência do pais com as consequências que hoje se conhecem. Entrega das expropriações legitimamente feitas, a terras não cultivadas e de empresas que os trabalhadores mantiveram activas, após o abandono dos seus proprietários, premiando-os com indemnizações chorudas, para que tudo viesse a ficar como dantes. Em alguns casos, como nas zonas da reforma agrária, resultou em novo abandono das terras, e a sua venda posterior e com os resultados que se sabem, voltamos a depender, em grande parte, de importações agrícolas. E em outros casos, empresas entregues aos patrões que rapidamente as levaram à falência, com o consequente desemprego onerando as despesas do país.

De um período revolucionário, de grande criatividade, melhor qualidade de vida, maior enriquecimento cultural, maior participação dos cidadãos, estamos hoje reduzidos por um espartilho político ditatorial de um governo que serve os interesses dos capitais e políticas dos senhores do dinheiro, a um povo sem auto estima, submetido novamente ao medo do poder e do grande capital. Com um grande número de desempregados, com condições de vida que atingem os limiares da pobreza em muitos dos portugueses e com um governo que pretende em nome da crise acabar, com todos os direitos que a revolução nos trouxe, tentando impor ao povo, o bafio salazarento de tão má memoria.

É importante que o povo português saiba do seu poder e da sua capacidade para mandar na roda do progresso e da história, para que novamente coloque o carro nos carris do progresso e da democracia. Para tal temos de perder o medo e avançar com todas as formas de luta, legitimadas pela indignação e pelo direito a ter uma sociedade melhor, mais solidária e com benefícios de todos e não só de alguns.

É preciso que o povo, como no período da Revolução de 25 de Abril, reconquiste a liberdade, defendendo os seus direitos nas empresas, nas escolas, universidades, nos seus sindicatos, associações profissionais, culturais, e muitas outras.

Não só devemos dizer que temos de defender a Abril, mas também, que estamos dispostos a fazer uma outra revolução com data a marcar urgentemente.

sábado, 14 de abril de 2012

É A FALA DO CORAÇÃO


Senhor de todas as dores
É a fala do coração
Que escreve seus amores
Em letras de canção.

A partida tem uma chegada,
A vida tem muitas cores,
Uma alma magoada,
Tem de apagar muitas dores.

Nem sempre nem nunca, se pode dizer
Tudo pode acontecer, no virar da página
De um livro que ainda se está a escrever.

Usar a imaginação, mostrar a verdade,
Cumprir o que manda o coração.
E tudo se há-de realizar ao sabor dessa emoção

quinta-feira, 15 de março de 2012

Sinopse de um Poema Erótico


Apetecia-me escrever um poema
daqueles que falam de orgasmos
de loucura e erecção,
de gemidos e fantasias
de corpos suados e de tesão!

Ai... que eu devo estar louca
senão louca, a delirar.
O que diriam de mim
o que me iriam chamar!

Bolas este mundo é uma farsa.
Haverá alguém que o não saiba
o que não sentiu ou experimentou?
E se o não disse foi vergonha,
mas se não disse pensou!

Tanto pudor nessas cabeças
sempre com zelo de parecer mal.
E escondem que o prazer do prazer
mais não é que um acto natural!

Então que se escreva com arte
com minúcia e perfeição,
e que as letras gemam de prazer
que as palavras se orgasmem ao dizer
que o amor também se faz com tesão!

do livro: Um beijo sem nome -Ana Paula Lavado