terça-feira, 8 de maio de 2012

MORREU-SE DE SI

Ficou perdido no caminho quando atravessava as montanhas. Ele se arrastara na renúncia de si próprio, para chegar mais alto, adentrando, entre árvores, flores e espinhos, sentindo o apelo da terra.
Subira, subira, procurando dar tempo de espera, aceitando a distância, não percebendo as recusas, perecendo seu sentir pela indiferença, individualismo e desistência. Importante era chegar ao interior, ao centro da montanha, que se propusera conquistar, como se dum Everest se tratasse.
Plantou uma flor em seu peito, regou-a com o desvelo das palavras, das frases que se iam soltando nos seus dizeres, e procurou que seu cheiro não se perdesse, na rudeza da montanha. No entanto a imensa seca do nascer do novo ano, fez com que tudo se amadurecesse rápido de mais, sem que o sumo de outrora, que enriquecia todas as plantas e frutos, fosse vigoroso, abundante e permanente, sustentando os riscos que desenhavam diferentes quereres. Assim, Pedro Vagabundo, caminhador de profissão, se perdeu em mais uma terra, sem ter encontrado a musa dos seus sentires, nem o calor de seus braços, nem o caminho da montanha que se prometera conquistar. Morreu-se de si, abraçando a árvore que não conseguia abarcar com seus braços débeis, deixando-se escorregar lentamente pelo tronco e beijando a terra já com os lábios frios de quem partiu.

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