sexta-feira, 15 de junho de 2012

FOI EM SETEMBRO


Sim foi no final do verão, que tudo começou, Setembro era o mês.

De palavra a palavra, de conversa em conversa, de sinal em sinal, só a voz e entoação suave, ou agreste, simples ou complexa, mas voz que mexia na carne, agitava o sangue e se fixava. Era ainda uma sonoridade sem cheiros que marcassem memória.

De repente tornou-se corpo, imagem, vida, surgindo do fundo negro que desenhava a entrada do edifício. Chegara o dia em que todos os elementos se juntavam, voz e seus sons, imagem e seu real, cheiros e suas referências, beijos e seus desejos.

Dias foram poucos plenos e loucos. Umas vezes caminhado sobre o passado em ruas de outrora, outras restando no silêncio das paredes e alguns outros, somente dois perdidos em si mesmos, saboreando a doçura do instante.

Assim se iniciou o fim do verão e teve início o Outono macio suave deliciosamente modulado, emoldurando vidas, gestos, castanhos suaves e folhas que se desfaziam debaixo dos pés, como quisessem reformular um novo tempo.

No entanto seria o inverno que entrou até aos ossos arrefecendo o ar como a alma, que iria estragar o desenvolvimento da história tornando trôpegas as palavras tirando serenidade ao discurso deixando as frases marcarem silêncios.

A distância enrola-se nas ausências, o destino fica sem chegada, e a figura que emoldurou a entrada sobre o fundo escuro, fixou-se no nevoeiro da ambiguidade.

O que foi não voltou a ser e a morfologia dos acontecimentos se alterou deixando rastos de um crime que não aconteceu.

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