quinta-feira, 14 de junho de 2012

UM DESABAFO


Há quem diga que devemos rir, e penso que sim, mas pergunto-me como fazê-lo se nos torturam a graça de viver.

Quem lhe dera que as palavras que escrevia tivessem a verdadeira leitura que as motivaram a ser escritas. Ele punha-as lá para que a mensagem chegasse, para que o desistente não desistisse, que o valente persistisse. Até pensava que depois de lidas seria mais fácil que sorriso surgisse, assim como quem está contaminado pela gargalhada forjada, que alimenta um sorriso como se inesperado.

Nada acontecera, e sempre se desvaneceram as palavras no pensar dos outros, no sentir de outros, longe daquilo que queria que elas e eles fizessem ao ler-lhe a alma, ajudá-lo a sorrir, a partilhar e a acordar as memórias.

Sim, derramou-se a escrever as palavras que transportam tristeza, que falam de dor, que pensam por todos mesmo sendo de um só. Porque não deixar que elas desabafem o que dentro precisa de ser desabafado, para que saindo do pesadelo possa realmente sorrir?

Não lhe censurem a rigidez, as posturas altivas, ou as frases construídas como se fossem muros.

As rugas na cara, as sobrancelhas franzidas, palavras azedas. São manifestações de limpeza, de afastamento, de ganhar distância da realidade crua que a todos vitima.

Talvez ele, porque mais sensível, ou nem por isso, pretende que as palavras ao serem escritas se esvaziem pelo conteúdo e permitam o tal sorriso, ou gargalhada, que afasta fantasmas e torna a vida mais bonita, mais sonora, mais enriquecedora, envolvida em beijos e carícias, em abraços e ternuras, distribuídos em larga escala como se a sorte grande parisse um outro ser e um outro mundo sobre os escombros.

Não quer que lhe leiam o passado mais do que ele próprio, pois dele tem histórias sobre histórias, que não deixam de doer.

“Quem diz a verdade não merece castigo”, diz o povo, então porque razão a verdade não pode fluir mesmo que exagerada na expressão do seu sentir.

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