sábado, 23 de junho de 2012

OUTONO E O AMOR


Outono em Nova Iorque. Ver o filme "Outono em Nova Iorque" deixa-nos embevecidos e com o coração carregado de dor e, ao mesmo tempo, seduzidos pela beleza do amor, alimentando esperanças aos mais incrédulos, levando-os longe nas expectativas sobre a riqueza de tal sentimento.

Não é estranho, por isso, que homens e mulheres, dos mais variados quadrantes sociais, culturais e políticos, vêem, lêem, e falam de amor e tudo o que ele envolve. Correm atrás do amor, para o receberem ou para o prodigalizar. Procuram-no como uma quimera, ávidos de sentir o tal sentimento que, na maioria dos casos, desconhecem mas tentam adivinhá-lo, nas diferentes manifestações. Às vezes descrevem-no de tal modo e dão-lhe tanto ênfase, que quase o tornam abstracto. Na verdade tentam descobrir se, de facto, ele cria borboletas no estômago, se ele faz tremer, ou se o coração pula ao ver a figura ou imagem do objecto do seu amor.

Compram-se discos, livros, flores, oferecem-se prendas variadas, em dias procurados, ou em dias de êxito, compensando as ausências, ou as permanências menos certas. Escrevemos, pintamos, somos criativos e empolgamo-nos mostrando as nossas fraquezas, as nossas capacidades, debaixo da inspiração de um grande amor. Este, por vezes, só existe na imaginação, é musa de inspiração para toda essa criatividade, mas na realidade o objecto do seu amor só existe na sua mente. Na realidade, apaixonados e sós. 
O ser humano tem uma enorme capacidade para fazer cenários, de acordo com as expectativas que cria para si próprio, e depois surpreende-se com os fracassos.

A Realidade, e a passagem do tempo com a sua crueldade, mostra-nos o engano, a simulação, a inépcia, a incultura, a superficialidade, o mofo mental. Essa realidade que, com o passar do tempo, torna mais evidente o apego, a dependência, a incoerência, o egoísmo e o desamor, quando confrontados com situações de infortúnio como o desemprego, uma doença grave, e várias outras que, na maioria dos casos, não tem as suas causas em qualquer deles.
 
Cathy Guisewite, escreveu como título do seu livro “Homens deviam vir com um livro de instruções”, eu penso que não deverá chegar a tal, mas talvez fosse aconselhável a quem procura um tal amor, fazer como dizia um antigo professor que só casara acima dos quarenta anos: “Oh pázinho, - tratamento carinhoso que ele usava com os alunos a quem respeitava – antes de casar escrevi uma carta à mulher, que era objecto do meu amor, dizendo-lhe que casaria com ela, se tudo o que pretendia e abaixo descrevia, fosse aceite por ela. Então enumerei os vários itens, do que eu achava importante para mim, para que fosse a minha mulher, e o que eu estaria disposto a fazer caso ela aceitasse. Ela aceitou, acrescentando pequenas notas, e casámos”.


O seu casamento durou até à sua morte, à volta dos oitenta anos. Era um casal amoroso, e de um entendimento ímpar.


Talvez para haver um grande amor, ou vir a ter um grande amor, fosse necessário ter um livrinho onde colocássemos as nossas vontades, uma espécie de deve e haver, onde os envolvidos deveriam expressar todas as seus valores, perspectivas, ambições, desejos etc. do que querem, para evitar sofrerem decepções e não perderem tempo em “romances” de desgaste, como dizia uma escritora, de roda-bota-fora.

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