segunda-feira, 3 de setembro de 2012

DominGo e O Seu conTráriO


Será estranho que faça do silêncio o seu "fetiche", na verdade ele o acompanha há largo tempo, deixa-o ouvir a ópera escondida do dia à dia, o Pavaroti que lhe enche a alma, o Leonard Cohen na sua voz semi-rouca e todos os outros sons, é um silêncio que lhe permite a leitura atenta dos que escrevem e lhe tocam os sentidos, é no seu silêncio que as linhas surgem no papel, a mão já sem norte na procura do reencontro, reavivando traços e cores, atenuar a distância entre o real e a realidade.
O dia de hoje, santo, porque não se trabalha, é um nado morto no correr dos tempos

o domingo é um espaço perdido nos dias, maior no silêncio

outrora o dia de família, das conversas leves, comuns e das outras mais vibrantes, das gargalhadas fartas, da alegria do abraço, do beijo fraterno, hoje, este dia para ele, foi esvaziado de conteúdo, todos perdidos em famílias outras, que cada um foi de per si construindo, matando a origem, criando outras origens.

Domingo, dia de rituais, onde os mais novos se apercebiam, de um outro mundo além dos telemóveis, computadores, televisão, onde sobressaindo no meio dos vários perfumes de cada um, surgiam os odores das diferentes iguarias em degustação, rematadas num leite creme delicioso, de um café fraco, feito naquelas máquinas esquisitas que o “torram”, nem cimbalino, nem de saco, mixórdia gostosa porque é o da casa

no sofá semi-cerrando os olhos deixa-se ir para a sesta

o almoço nada teve de tradicional, nem na qualidade nem a companhia, silêncio rompido pelo mastigar e do mexer dos talheres, os olhos de vez em quando vagueando pelas paredes da cozinha, os amigos também estão ocupados com o mundo deles, interromper é injusto

o domingo decorrerá como sempre para ele

ao contrário das outras pessoas para quem o domingo é o descanso antes de segunda feira, tempo para dar um naco de afecto à família, ele terá a rotina vazia que o silêncio acompanha, só muito para noite quando todos já dormem, acordado, sem hora para o despertar, se preparará para gozar os dias seguintes repetindo o remake de um filme onde os actores não se apercebem do seu papel e de quem os observa.

De alguma forma o seu domingo são todos os outros dias da semana em que o silêncio está dentro de si, sobrepondo-se aos ruídos do mundo que o rodeiam, silêncio cerebral onde as letras as frases e as memórias trabalham, onde as ideias se fabricam e os sonhos vagueiam como se de noite em sono profundo.

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