terça-feira, 18 de setembro de 2012

+ VALe TarDE do Que NUnca


Eu estive lá e não me regozijo mais do que das muitas outras vezes que estive lá, mas fico feliz, pois como diz o povo na sua sabedoria “ mais vale tarde do que nunca”

Sempre participei livremente em manifestações, desde que na defesa do bem comum e com a consciência de que não eram voláteis os assuntos e as pessoas. Sábado verifiquei, que muita gente apareceu na manifestação marcada pela net. Lá se foram os tempos de se fazer e colar cartazes, para fazer publicidade ao evento. É de facto mais prático, não se sujam as mãos e nem há trabalho, ou seja propaganda fruto do tempo e das “modernices”. Talvez eu seja um velho do Restelo, por ainda me lembrar, quando perdíamos noites, antes e depois do 25 de Abril, para mobilizar as pessoas para a rua, com sacrifícios tais que não lembra o diabo, mas com a riqueza do companheirismo e cumplicidades inerentes à luta.

Avançando, vi de facto muito gente na baixa do Porto, o que me podia levar a perguntar onde estava esta gente quando da greve geral, quando da greve dos professores quando das manifestações que ao longo destes anos, e em especial, no último ano se têm efectuado? Se tivessem aparecido nessas outras manifestações como na de ontem, será que o país estaria a atravessar tão grave situação?

Muita gente ficou á espera que a revolta dos outros resultasse no seu benefício.

Dizia uma senhora virada para as câmaras de televisão, que nunca tinha ido a nenhuma das anteriores manifestações, mas agora... o que me lembra o poema "Indiferença"* que diz:
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
Tanta coisa tem sido posta em causa pelos sucessivos governos PS/PSD, entregando tudo o que foram conquistas de Abril, ao poder financeiro, inventando a democracia social, económica, cultural, etc.etc, quase nos fazendo acreditar que a democracia tem variantes e não é só uma.
Eu gosto de ver o povo, sem classificações de meio ricos, os mais ou menos ricos, os mais ou menos pobres, e os mais ou menos da classe média, (e a luta de classes onde fica?) mas todos aqueles que na sua individualidade constroem este pais numa democracia única no respeito por cada um e na aceitação de quem é eleito para dirigir todo um povo e não em benefício de alguns.

Não comparo esta manifestação com a “manifestação das caçarolas” do tempo do Allend(Chile), de apoio à direita que tudo fazia para derrubar o seu governo socialista legalmente eleito, em que as pretensas donas de casa que nunca o foram reclamavam, mas temos de pensar no que ela significou e quais os objectivos que se alcançaram.

Lembro-me dos Pachecos, dos Durões, dos Barretos, que se diziam em tempos de esquerda e onde estão agora? Lembro-me de alguns Primeiros, outros Presidentes, outros bombistas, que hoje comentam para a televisão e dizem estar ao lado do povo que eles traíram, nesse outro tempo, tentando assim branquear o mal que fizeram à democracia. Alguns deles foram os primeiros a darem indemnizações aos regressados do estrangeiro para onde tinham fugido a seguir ao 25 de Abril, deixando as fábricas abandonadas, muitas delas já falidas. Puderam fugir em “nome da liberdade”.

Sou dos que não acredito, que sem partidos se construa o futuro de Portugal, como também, não acredito que gritar “Oh Coelho vai para rua que esta terra não é tua”, e a seguir se batam palmas ritmadas. Há quem lhe chame Esquerda Festiva. EU chamar-lhe-ia “Indignados bem vestidos”. A malta de esquerda veste bem, mas não faz da luta uma romaria revolucionária, ou uma passagem de modelos, tal era o vestuário de um “negligé”, fresco, leve e com muito gosto, com que muita gente pavoneava e observava de fora a marcha. Não temos de andar de fato macaco, mas na verdade é preciso sentir o fato macaco.

Permitam-me que duvide das pessoas que dizem há anos não votam e não acreditam nos políticos, que no futuro próximo, ou que voltem a votar, porque nessa altura a desculpa será a de não encontrarem alternativas. Até porque de facto a alternativa está efectivamente à esquerda, e em todos os outros partidos em que eles, costumam dizer “ não se revêem”.

Acredito sim, que no meio daqueles muitos milhares presentes, dos quais muitos deles por solidariedade foram engrossar o protesto, estejam pessoas que reconhecerão, terem andado anos arredados da verdade do país esquecendo-se da ditadura fascista, e todo este percurso desde o 25 de Abril, até aos dias de hoje. Acredito que muitos outros comecem a perceber que não chega integrarem-se na “esquerda festiva”, ou serem uns "indignados", é preciso mais do que isso, só a luta organizada e a união de todos fará deste Portugal um pais melhor onde todos têm direito ao estudo, ao trabalho à saúde a acima da tudo à sua dignidade.

Tenho esperança que num futuro próximo, muitas destas pessoas serão solidárias irão para a porta das fábricas apoiar os direitos de quem trabalha, que serão solidários nas empresas, nas escolas, que se indignem com a exploração, que não critiquem as manifestações, as greves e que estarão solidários em todas as decisões que ponham em causa o bem colectivo da sociedade

Os meios de comunicação, apareceram em massa e deram uma cobertura como já não se via há muito a estes acontecimentos como se tivessem acordado agora. De facto eu nunca vi tanta quantidade de representantes dos media, digo eu agora, “desde os primórdios da revolução”. Assim como não tenho memória de ter estado numa manifestação com tantos fotógrafos amadores, com tão boas máquinas, procurando registar aquele momento único, talvez para eles.

No passado para a direita, a “esquerda pequeno -burguesa” não fazia mossa antes pelo contrário. “A esquerda festiva” ou “os indignados” , de igual modo, nos tempos de hoje também não fazem e como tal não lhe dão valor algum. O Poder económico admira muitas “esquerdas festivas” e até lhes chama democráticas, porque têm medo de qualquer força organizada. A “esquerda festiva”, reivindica tudo, só que não põe em causa a estrutura e o sistema que regem as nossas sociedades, o capitalismo.

Faço votos que me engane e todas estas pessoas que participaram na manifestação sejam consistentes e conscientes e a partir de agora estejam atentas não permitindo os abusos do poder.


Atribui-se este poema a Bertold Brecht, como a outros autores como por exemplo Martin Niemoller.

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