sexta-feira, 22 de março de 2013

A VIAGEM


Longo tempo passou desde a minha última viagem para longe da área onde habito. Todos temos uma área de conforto onde parece existir tudo o que necessitamos. A loja, o jardim, o transporte, o café, o restaurante, o amigo, o hospital, enfim tudo aquilo que nos torna a vida num quotidiano rotineiro, do qual muitas vezes reclamamos, mas que “nos fica tão bem”.


Sempre fui bicho do buraco, por insegurança? Por comodismo? Isso queria eu saber. Na verdade, uns adoram viajar, outros preferem não ter de se incomodarem a sair, porque não podem levar a casa às costas com tudo aquilo que pensam precisar e que são o seu “sempre à mão”.


Sair em viagem para mim é uma necessidade sanitária, preciso de limpar a mente e voltar a reencontrar o prazer do retorno à origem, quando ela finda. Gritar na entrada da porta dizendo; “cheguei, lar doce lar”. Tomar um banho, deslizar no sofá e reviver os dias finais da viagem. O restante será revisto de forma divertida, só, ou com os amigos e familiares, entre risadas alegres esquecendo até que não gosta nada de viajar e de romper as suas rotinas.


Vou fazer uma pequena viagem, não pelas razões do costume, e sim porque terei o prazer de encontrar um outro lugar, onde espero, o acolhimento seja doce, a cidade me seja apresentada com todo o seu esplendor, e as delicias gastronómicas caseiras sejam um prenúncio, de uma noite com pouco dormir e muito prazer, sentir, sorrir e viver.


Fico sentado olhando a mala, ainda com um pequeno espaço, onde caberão mais algumas coisas. A mala é pequena, mas grande o suficiente para levar o essencial para tão pouco tempo, dúvidas tenho se o meu recheio é o suficiente para preencher esse alguém que espera minha visita.


A viagem parecerá tão longa, como curto o tempo de estar, mas estou convicto, que as memórias que se desenharão naqueles dias, serão tão perenes que permanecerão como marcas na pele, como outras, com o sabor dos morangos com chantilly.

Entretanto, como é habitual antes de qualquer viagem pequena, ou grande, fico sentado olhando o espaço envolvente da sala como se temesse perder as suas referências, ou deixar abandonados os meus livros, pinturas, e outros elementos decorativos, que a preenchem. Assim vai a noite, lentamente adentrando, e eu no meu silêncio vou alimentando a expectativa, pensando no transporte, nos horários, se nada fica esquecido esperando que o sono surja e o dia traga alegria na partida.

DC

1 comentário:

  1. Texto lindo com que me identifiquei totalmente.
    Também a mim me acontece isso antes de deixar o meu pequeno lar. Às vezes penso,"será que vai valer a pena"?. Mas depois acabo sempre por gostar.
    Mas bom mesmo é regressar ao nosso pequeno mundo onde a familiariedade do que nos rodeia, só por si nos conforta.
    Espero que esta tua saída te dê aquilo que buscas.

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