sábado, 17 de agosto de 2013

O SOL ESTAVA PRESENTE





Cantarolando entre dentes, ia calcorreando o empedrado miúdo, que ia desaparecendo sob a sola das sandálias, Quase me apetecia descalçá-las, para sentir o chão na polpa dos pés, e a força dos dedos se firmando a cada passada, Poderia assim ligar-me à Terra e aproveitar o que me quisesse comunicar.

O sol estava presente em tudo, Na luz do chão que pisava, no torrar das paredes dos prédios e casas, na clareza das cores, nas plantas se exuberando, nas sombras irregulares dos muros que desenhavam perfis de uma cidade imaginária.
O sol de verão, luminoso, transmitia alegria e calor a todas as superfícies em que tocava, ajudado pela brisa suave que se deslocava de forma intermitente no ar.

Eu procurava não me perder no decurso dos pensamentos, Olhava as casas grandes semi-abandonadas, com paredes de pedra e alpendres, imaginando o que poderia fazer para as recuperar e adaptar às necessidades actuais, sem desvirtuar os princípios que as tornavam sedutoras aos meus olhos, nem eliminar as flores que se penduravam nos muros que as envolviam. E sonhava, sonhava vivê-las por dentro.

Os carros passavam longe. O ruído do trabalhar dos seus motores, surgia aos ouvidos como uma rajada de vento, que se diluía no ar. Enquanto isso, tudo observava como se fosse a primeira vez que por ali andava, Não tinha pressa de chegar ao destino, o pouco tempo que teria para realizar os objectivos à muito traçados, traziam inquietação, em contra-ponto com a necessidade de gozar aquele momento.

Quando descia uma das ruas que me aproximavam de casa, Vi-a, Trazia um carrinho de mão daqueles usados para transporte dos sacos de compras, com uma caixa de cartão, e nela pousada uma flor vermelha de Jardineira, talvez destinada ao seu grande amor, Vestida com um casaco escuro, os cabelos totalmente brancos diziam da idade, O sorriso no seu rosto marcado pelo tempo, falava serenidade e prazer de desfrutar o dia. A idade parecia ter perdido o peso, certamente voava, como eu, para outros sonhos. Fiquei feliz ao vê-la, Deu-me a certeza de que valia a pena viver a alegria do dia.

Os jardins da urbanização e os edifícios mutuamente se evidenciavam, As flores vermelhas fizeram-me parar e captar a sua imagem para dentro do cartão digital, Mais à frente novamente os girassóis, se atravessavam no meu caminho e sentia-os mais do que nunca, como o meu mundo de gente pequena. Tudo me tocava por dentro.

Algo de nostálgico e sublime se passara neste meu viajar andarilho e me fizera sentir humanamente recuperável.

A vida é muito mais do que problemas económicos, zangas, guerras, ou bens materiais, é uma saudável paz de espírito, com nós próprios.

DC



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