segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O lugar é bucólico...



Fui para ver as exposições e mais uma vez sentir o prazer de passear naqueles jardins, encontrando um pouco de paz.


Ali sentado no banco de madeira, procurava o sossego que me tinha faltado nos últimos dias. Olhava o pasto verde onde os bois se sentavam como estátuas, fazendo uma pausa no seu mundo, enquanto eu procurava encontrar o meu. Era mesmo aquilo que pretendia, Sentir aquela mistura dos diferentes cheiros pairando no ar, e sentir a agitação da própria natureza e seu universo. O cheiro da erva, dos animais, da terra escura e húmida, das árvores, O rumorejar da brisa leve agitando a folhagem e o sol trazendo a luz e as sombras.

De momento para outro, cruzam-se as diferentes morfologias físicas e línguas, perante os meus olhos e ouvidos, Os visitantes invadiam o espaço.
As crianças arredondam os olhos vendo os animais, e apreciam cada um dos movimentos do seu corpo, Uns espantam-se e questionam os adultos, que os acompanham, com perguntas sucessivas, sobre a sua qualidade, a sua dimensão, a razão de os bois terem aqueles cornos enormes na cabeça e o por quê, de estarem ali, enquanto outros, ficam silenciosos pelo espanto do que observam, como se nunca tivessem visto tal coisa - se calhar citadinos, não viram mesmo. Em ambos os casos ,as crianças vou ouvindo e recebendo de forma muito pedagógica(?), o acerto ou desacerto das respostas dos adultos que, por vezes, se tornam enfadonhos.

Alguns adultos fotografam, com telemóvel, máquina digital, ou analógica, tudo serve para fixar o momento, Uns captam os animais, as companheiras, com os cornos dos ditos bois bem no fundo da imagem, Outros sentam-se nos bancos madeira desocupados, fazendo numa pausa, enchendo o ar com algaraviado de sons e línguas para mim desconhecidas, no meio de diferentes tonalidades de português. Falam à vontade sem medo, que aqui o “tuga”, possa perceber.

O lugar é bucólico, mas ao domingo demasiado “turístico”, daí o fim do sossego por algum tempo.

Conforme chegaram, partiram, e até que venha nova “fornada”, o ambiente retoma o seu desenho, voltando ao estado puro. Aí, volto eu às minhas cogitações, e estabeleço paralelismo entre o que ali momentaneamente ocorreu e o mundo para o qual as obras de arte nos transportam, Talvez, também elas sejam resultado de pausas e movimento, Nuns casos cheias de ruídos de fundo, outras simples e encantatórias, e ainda outras carregadas de absurdos, apanhando, como eu aqui sentado, os incautos por não estarem devidamente qualificados para perceberem a sua estética(?).

Entretanto os bois ruminam indiferentes a quem os observa, os burros e machos continuam retoiçando a relva. Penso: “que se lixem as interrupções” elas servem para perceber e apreciar melhor as pausas.

DC

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