terça-feira, 26 de agosto de 2014

Uma estória que aconteceu, ou podia acontecer



Havia momentos, estando em casa, em que via um filme com uma qualquer estória, só para amarrar o olhar, para que não se dispersasse observando o interior de si.

Preferia agarrar-se ao que ouvia e ao que via. São outros com o seu dizer. É um outro olhar sobre uma realidade acontecida, ou prevista acontecer, Uma leitura com imagens por vezes tão ricas, que nos deixam palmilhando caminhos, vivendo diferentes atmosferas sociais, amores incompreendidos, corpos, almas(?), vinganças, doenças, alegrias e cansaços, Tudo se abrange, naquele tempo em que se amarra, Afasta-se de tudo, mesmo quando o relatado tem um pouco da sua própria estória.

De quando em vez, inquieto, mexe-se e respira mais fundo quando a tensão aumenta ou tristeza se aproxima, porque a estória se perdeu da comédia, Aí, faz uma pausa para não lhe dar continuidade, não quer sentir o desconforto que se avizinha; às vezes, salta uns tantos fotogramas avançando, como se fosse um livro a quem deixamos para trás as folhas que não queremos ler.

As imagens se desvanecem, a estória contada fica pairando no ar durante algum tempo, é um momento único de silêncio, só a mente se agita como um olhar à procura de encontrar. Tudo foi absorvido como uma esponja, sem se preocupar muito em reflectir, agora vai espremendo lentamente como que anestesiado, Quer continuar amarrado divagando, flutuando, fugindo do seu mundo real, olhando sem ver, só ele e os seus amigos de todos os dias, preenchendo as estantes, os livros, nas paredes, as pinturas. As sombras das luzes baixas, alimentam os fantasmas projectados pelas sombras de uma estória que aconteceu, ou podia acontecer.

DC

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