sábado, 13 de junho de 2015

CRIANÇAS D'RUA


Olho a fotografia, envergonho-me de muitos de nós, de nos dizermos humanistas, quando ficamos pacificamente esperando, que alguém, ou alguma, coisa resolva esta calamidade.

Corpos frágeis, ainda mal estruturados, física e mentalmente, sem calor, carinho, pais ou pátria. Esparramados na soleira das casas, como embrulhos, ou restos de lixo, na confusão de mantas e cartões, leito possível, onde sobressaem os seus rostos tisnados e sujos. Crianças, sobreviventes numa sociedade que não as cuida, num país que os governantes não governam e são paus mandados de banqueiros e empresários, que se dizem cumpridores perante os credores externos, mas não cumprem com as crianças. Crianças que encontram a comida nos caixotes do lixo, ou na esmola caridosa, não têm casa, não estudam, não brincam. Crianças de olhar pesado, da tristeza e dor acumulados, que constroem seus leitos, não no chão da sala, na hora de brincar, mas no mármore frio, que decoram as portas onde se deitam em plena rua.

Aqueles, agora frágeis corpos de criança, nascidas com a descrença, alimentadas na revolta contida, quando se superam, na doença, na intempérie, na fome que lhes rói o estômago, carregam em si próprios, baterias de revolta, ganham coragem, e mais tarde, já adultos, despoletam à mínima faísca a violência armazenada. E com isto, sobra desde logo, para mais tarde, o julgamento dessa sociedade que lhes retirou a capacidade de serem, viverem, e crescerem crianças.
Nascem sem futuro, morrem sem viverem
E dizia o poeta “ o melhor do mundo são as crianças”. Na verdade são, mas a sociedade dás-lhes tão pouco.


dc




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