O boné e as
sobrancelhas espessas, faziam pala sobre os olhos, fundos, sombreando-os do sol, permitindo-lhe aquele
olhar que o colocava longe da costa com capacidade de adivinhar tempestades, ou
fainas grandiosas.
O
tempo de espera e incerteza diária, tornou-se mais doloroso, tiraram-lhe o mar,
a idade avançada e as mãos trôpegas impediam-no de voltar. Sofria agora mais,
nesta angustiante espera, do que na labuta intensa e perigosa de trazer o peixe
à cidade. Vivia a angústia da partida, dos barcos que partiam sem ele, como temia
que o mar, imprevisível, levasse os barcos e seus homens.
Agarrou-se ao banco como se fora a proa de um barco, Ali, criou raízes, todos os dias, de
olhos postos no horizonte, esperando o regresso dos companheiros de faina, Agora,
só as gaivotas o entendiam visitando-o com regularidade, Traziam-lhe o cheiro
do cardume e o viver da faina em alto mar. Assim, se iam resumindo os dias, até
que o pensamento desconhecesse o corpo e o levasse a escorregar para o outro
lado que desconhecia.
dc
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