sábado, 10 de setembro de 2016

O Tempo da Queda





As pálpebras preguiçosas fazem-no semicerrar os olhos, observando tudo como um filme em câmara lenta. O sol apossou-se do alcatrão atraindo os lagartos, que se expõem seguros nas quatro patas e cabeça levantada farejando o ar. O calor tórrido e a luz recortam os edifícios no espaço reforçando os seus volumes e características, com sombras marcantes e generosas...um dia de verão de sol e calor abundante. Não lhe apetece despertar da modorra que em si se instalou. Quer ficar eternamente assim, insensível a tudo, menos aquela luz que marca todos os objectos que o rodeiam. Quer que tudo se fixe neste momento, como se nada mais existisse, só ele e as circunstâncias onde se encontra. Não quer saber de mais nada, não ter mais nada. Tombado na beira do caminho, cara colada no alcatrão se pergunta, “que me aconteceu.. há quanto tempo estou aqui?”. O tempo da queda nunca é devidamente dimensionado, quase sempre inesperada, nunca estamos preparamos para ela.
Difícil é voltar a levantar.

dc



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