terça-feira, 11 de abril de 2017

confidência




“Face lisa, sem botoque, umas pequenas rugas nos olhos, não da idade, mas pelo olhar intenso que faz ao cerrar os olhos, como se quisessem adentrar. Olhos belíssimos, negros, enormes, trazem vida à boca de lábios vermelhos cor de cereja.
Do resto, é melhor nem falar, é demasiado para ficar indiferente. Uma morfologia física a não desdenhar e uma capacidade intelectual acima da média.  Ela e seu encanto, trazem-me o sorriso aos lábios quando a vejo, seus dedos têm a leveza da borboleta quando me percorrem o rosto. As sua mãos, são macio veludo com que agarra meu rosto e me beija boca, como que sorvendo um fruto. Beijo molhado, corpo se enroscando, se aninhando em meus braços voando para dentro de mim.
Horas sem sentido falando, beijando, indo mais longe, descobrindo que o sabor da vida é um nós que se vai instalando, não deixando lugar a dúvidas, confiantes no que temos e conquistamos.”

Em jeito de confidência, foi assim que ele me descreveu o amor da sua vida. Numa alegria de criança, de voz agitada, mãos desenhando no ar arabescos, com agitação de uma performance em tela de Pollock*, Só não dava pulos no ar, mas voava, sentia-se que voava, mesmo de pés assentes no chão. Sentia-se a leveza na expressão do rosto, todo ele era felicidade.
Eu, que o ouvia, deliciava-me por perceber que a sua contagiante alegria era uma mensagem, um alerta de esperança, para os menos esperançosos, de que a qualquer momento, nesse caminhar dos dias, se pode dar uma topada e dali surgir o seu “ai jesus”.

dc


*Paul Jackson Pollock foi um pintor norte-americano e referência no movimento do expressionismo abstrato. 



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