domingo, 12 de novembro de 2017

Um beijo espontâneo




Foi um beijo espontâneo, benzido pelo tom rubro do vinho tinto. Com ele o tontear da ironia do destino, que marcou o deslumbramento e como tudo evoluiu. A loucura de corpos se conhecendo, com dedos e bocas se percorrendo no mais diminuto espaço, no registo da demografia corporal, na superfície da pele, apimentado pela mistura de cheiros e sabores que nos faz diferentes, e, hoje, registos de carácter definitivo nas memórias que afloram.
Um beijo como princípio, um fim desabraçado, distante, calado, abruptamente instalado, colorindo de roxo, a desistência, a covardia, o permanecer do vazio, a solidão esmagando com os pés todas as flores que tinham debruado os 'entretantos' que entremearam o tempo vivido.
Rasgado o princípio e o fim, nada mais resta, que alguma esperança, de que não seja o ácido da amargura a corroer o pensamento, a trazer ao enrugar da pele a desistência, o medo de voltar a acreditar que vale a pena ter via aberta ao novo, ao diferente, ao que por ser desejado e não cumprido, poderá ser uma realidade mais forte e jamais imaginada. Esquecer  “o poderíamos ter sido felizes” é importante, há mais vida para além do ontem, e viver o hoje construindo o estamos bem, nem sempre felizes, mas bem!


dc

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