domingo, 20 de maio de 2018

O único acaso




Na noite surgiu em palavras inesperadas e frases cantadas, que ia retendo no ouvido, enquanto o seu corpo colado ao meu se insinuava. O seu cheiro era único, não conspurcado pelo aroma dos perfumes de frasco, identificava o seu ADN que me seduzia e prendia. A voz rouca e baixa, aliciava-me ao irreal, fazia anular a presença física de objectos, de gente, punha-me a flutuar na nuvem de algodão doce, com que os seus lábios, roçando a pele do rosto, me fazia viver.
Nada acontece por acaso, tudo tem sua razão, não tínhamos tropeçado um no outro. Disse, o acaso? Que desculpas mais arranjaremos? Como se pode passar ao lado do tempo em que nos comunicávamos, revelando desejos, vontades, princípios e fins, gostos e tudo o mais que se pode imaginar. Tudo foi dito, a noite estava a ser o corolário, de muitas promessas, do que estimáramos ser, o nosso primeiro encontro. Desde o primeiro beijo da chegada, ao vinho, entornado na boca um do outro, à mesa do jantar, nada fora por acaso. O único acaso, foi descobrir que a afinidade das emoções e gozo, afinal eram comuns, e que as palavras, as frases feitas, os diálogos de engate, nada tinham que ver com aquela noite, que ainda estremecia dentro de si. 

dc


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