Na noite surgiu em palavras
inesperadas e frases cantadas, que ia retendo no ouvido, enquanto o seu corpo
colado ao meu se insinuava. O seu cheiro era único, não conspurcado pelo aroma
dos perfumes de frasco, identificava o seu ADN que me seduzia e prendia. A voz
rouca e baixa, aliciava-me ao irreal, fazia anular a presença física de objectos,
de gente, punha-me a flutuar na nuvem de algodão doce, com que os seus lábios,
roçando a pele do rosto, me fazia viver.
Nada acontece por acaso, tudo
tem sua razão, não tínhamos tropeçado um no outro. Disse, o acaso? Que
desculpas mais arranjaremos? Como se pode passar ao lado do tempo em que nos comunicávamos,
revelando desejos, vontades, princípios e fins, gostos e tudo o mais que se
pode imaginar. Tudo foi dito, a noite estava a ser o corolário, de muitas
promessas, do que estimáramos ser, o nosso primeiro encontro. Desde o primeiro
beijo da chegada, ao vinho, entornado na boca um do outro, à mesa do jantar,
nada fora por acaso. O único acaso, foi descobrir que a afinidade das emoções e
gozo, afinal eram comuns, e que as palavras, as frases feitas, os diálogos de
engate, nada tinham que ver com aquela noite, que ainda estremecia dentro de
si.
dc
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