A seara imensa, a perder de
vista, dava um tom dourado sobre a terra, contrastando com o azul brilhante do
céu. As mãos dela passeavam, livremente, sobre a superfície das espigas de
centeio, provocando um restolhar que se misturava com o chilreio dos pássaros,
como uma música psicadélica entrando nos seus ouvidos.
Bandos de pássaros sobrevoavam, ou mergulhavam, sobre o solo. Alguns, com as asas agitadas, mantinham-se no topo das plantas, enquanto debicavam o alimento. Qualquer ruído os fazia levantar voo, em grupos que pouco antes pareciam não existir. Ela continuava a sentir, nas pernas e nas mãos, as espigas do centeio marcando os seus movimentos. Sentia-se livre, longe de tudo, do passado e do futuro, só presente. Os olhos semicerrados, pela claridade, eram pequenas frestas no seu rosto. Na boca, o seu sorriso desenhava promessas e o cabelo quase loiro, esvoaçava ao mando da leve brisa que corria. Vestia a cor da paixão, em tecido de linho.
Ao longe ele a observava, deliciado, acompanhando aquele seu deslizar no dourado da seara. A sua mente atrevida, criava cenários: de mão dada correndo pelo meio da seara como crianças, ou jogando às escondidas, fugindo um do outro entre gargalhadas e braços envolvendo-se, ou até, ambos deitados olhando o céu, riscando no ar, de forma abstracta, figuras que íam substituindo palavras de amor, beijos e carícias. Ela virou a cabeça para o lado onde ele se encontrava, assustou-se, quase corou julgando-se descoberto, mas como poderia ela saber, se ele estava meio escondido na sombra da árvore? Seriam os seus pensamentos, voando na brisa, por ela escutados? Ela era uma noiva, namorando a natureza, uma ilusão que o cérebro traiçoeiro lhe trazia. Tudo estava na sua imaginação, continuava só, na eira da quinta, com o cheiro da palha seca. Alguém que o olhasse, reparava no olhar indefinido, a expressão marcada no seu rosto. Continuava preso ao sonho, de um dia de verão, lá longe. Afinal a memória, lembra-nos, não o que foi, mas o que teríamos gostado que tivesse sido. Há quem chame a isso, vida.
O sol começava a cuidar repousar, o dia quente e seco, começava a ser percorrido por uma aragem fresca. Estava na hora de regressar ao casarão enorme, vazio de gente, onde os móveis antigos e as paredes, preenchidas de pinturas e fotografias, não deixavam de ser tristes com a sua resposta silenciosa à minha tristeza. Ela já não morava ali.
Bandos de pássaros sobrevoavam, ou mergulhavam, sobre o solo. Alguns, com as asas agitadas, mantinham-se no topo das plantas, enquanto debicavam o alimento. Qualquer ruído os fazia levantar voo, em grupos que pouco antes pareciam não existir. Ela continuava a sentir, nas pernas e nas mãos, as espigas do centeio marcando os seus movimentos. Sentia-se livre, longe de tudo, do passado e do futuro, só presente. Os olhos semicerrados, pela claridade, eram pequenas frestas no seu rosto. Na boca, o seu sorriso desenhava promessas e o cabelo quase loiro, esvoaçava ao mando da leve brisa que corria. Vestia a cor da paixão, em tecido de linho.
Ao longe ele a observava, deliciado, acompanhando aquele seu deslizar no dourado da seara. A sua mente atrevida, criava cenários: de mão dada correndo pelo meio da seara como crianças, ou jogando às escondidas, fugindo um do outro entre gargalhadas e braços envolvendo-se, ou até, ambos deitados olhando o céu, riscando no ar, de forma abstracta, figuras que íam substituindo palavras de amor, beijos e carícias. Ela virou a cabeça para o lado onde ele se encontrava, assustou-se, quase corou julgando-se descoberto, mas como poderia ela saber, se ele estava meio escondido na sombra da árvore? Seriam os seus pensamentos, voando na brisa, por ela escutados? Ela era uma noiva, namorando a natureza, uma ilusão que o cérebro traiçoeiro lhe trazia. Tudo estava na sua imaginação, continuava só, na eira da quinta, com o cheiro da palha seca. Alguém que o olhasse, reparava no olhar indefinido, a expressão marcada no seu rosto. Continuava preso ao sonho, de um dia de verão, lá longe. Afinal a memória, lembra-nos, não o que foi, mas o que teríamos gostado que tivesse sido. Há quem chame a isso, vida.
O sol começava a cuidar repousar, o dia quente e seco, começava a ser percorrido por uma aragem fresca. Estava na hora de regressar ao casarão enorme, vazio de gente, onde os móveis antigos e as paredes, preenchidas de pinturas e fotografias, não deixavam de ser tristes com a sua resposta silenciosa à minha tristeza. Ela já não morava ali.
dc
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