sábado, 9 de junho de 2018

Encontro inesperado




Estava sentado na esplanada da praça, quando a viu do lado oposto ao seu, aconchegada a ele beijando-o. À distância, era impossível que ela o pudesse ver, daí o registar, à vontade, o que via. Muitos meses tinham decorrido desde a última vez que se viram e falaram, e outros tantos necessários de adaptação à sua ausência, no seu quotidiano. Sentiu o ciúme normal nestas situações, manifestado pela saudade de momentos semelhantes de outrora. A imagem tinha os mesmos elementos visuais, igual expressividade, conforme registo em seu arquivo. Tudo corre como tem de correr, não se consegue alterar, enquanto a vontade for de um só. Aquela cena funcionava em gesto mímico levado à mente, uma espécie de registo digital com os “píxeis” necessários para ficar visível com a mesma qualidade do arquivo na memória. Quando ocorrem estes encontros inesperados, pensamos, e repisamos, procurando encontrar as razões para nossa incapacidade de conseguir pensar com o coração e sentir com o cérebro, tornando perenes os sentimentos, que um dia, nos trouxeram o brilho da alegria aos olhos e o prazer de viver.

dc


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