sábado, 21 de julho de 2018

A preto e Branco




Aquele exercício de olhar nos olhos, ao cruzar com as pessoas, para encontrar “aquele tal olhar”, que fosse além do ver, talvez fosse resultado de um romantismo empedernido, perdido, esperando que um qualquer brilho diferente, falasse da linguagem certa. Foi decorrendo o tempo. Se olhares aconteceram, não foram tão claros como julgava, ou então já não mobilizavam, nem estava mobilizado para que acontecesse. A época das aventuras, em que um piscar de olhos, era suficiente para motivar um novo romance, assumisse ele a versão de “sério”, ou colorido, com as cores do arco-íris na negridão do céu, já foram. Então acomodou-se, fechou a porta, passou a usar óculos invisíveis capazes de tudo uniformizar, num preto e branco sem meias tintas. Seus olhos deixaram de ser o anúncio de tristeza e da falta, ou de querer encontrar respostas que não cuidavam surgir; passaram a ser um espelho baço sem a alma dos afectos.
A estrada é a direito, sempre em frente, ao encontro do inesperado que possa surgir, ou não. Endurece-se no correr dos anos, o frio das emoções entranha-se até aos ossos, existir é um facto, viver não é uma certeza.

dc

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