Sorriamos, olhando o
entardecer, sentados num banco junto ao rio. As mãos faziam-se sentir com a suavidade
dos dedos na pele do corpo. Sentíamos a diversidade dos cheiros, distintos,
marca única de identidade que delimita o nós que somos; cheiros que se
impregnam na pele e se colam na memória de um e do outro alimentando silêncios
e vazios futuros. A ponte, na sua majestade, testemunha silenciosa da nossa
presença, dava-nos a certeza do segredo, era o exemplo de ligação entre duas
margens, entre duas visões diferentes de uma mesma natureza, tu e eu. Até as
gaivotas, se atreviam coscuvilheiras a sondar a nossa presença, aproximando-se
como que sabendo-nos tão envolvidos, incapazes de nos apercebermos delas. Tantas
as vezes nos amoramos na conversa de fim de tarde. Partilhávamos pensamentos,
desejos, e enfeitávamos a boca de sorrisos que desciam até ao fundo de nós. Um
sorriso sempre nos afasta dos medos, alimenta os nossos olhares, traz a ânsia
de viver com intensidade, de resistir há intempérie dos dias menos bons, de
amar até ao infinito.
dc
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