terça-feira, 23 de julho de 2019

Ainda que sorrindo dói

Ainda que sorrindo, dói; ainda que se distanciando, dói; ainda que se embrulhando em livros e convívios de amigos, dói. Uma angústia que dói, a ausência do cheiro, do beijo e o sabor da boca, do abraço aconchegado, dói. Tudo dói nesta lembrança permanente que faz com que cada gesto, cada movimento se torne vivo e doloroso, até o esforço de tentar esquecer dói.
Encosta-se na almofada meditando, de acordo com os livros, ajudará a fugir da saudade, da dor das lembranças, ainda tão frescas, que agora são agulhas furando esse vazio que se instalou depois de seguirem caminhos inversos. Enquanto isso, adormece e, no sonho, corre em ruas de uma cidade constituída pelos muitos lugares, onde foi feliz, tentando refrear o veículo que não lhe obedece, e dói, não quer entrar nas vielas e ruas obscuras de outra cidade que flutua em si desde que o seu amor se foi. Não sente que as mudanças lhe obedeçam, desconfia, pensa em bruxas, em karmas em videntes, mas o sonho, esse é o pesadelo falando do que dói, esse seu deslizar parece fazer um relato dos acontecimentos, na procura dum caminho a seguir, ou um remédio para o que dói. Agita-se e acorda. Abre os olhos e não se lembra de como chegou aquele lugar. Sente uma certa leveza no corpo, meditar faz bem, pensa, desvia o olhar para mesa ao seu lado e a imagem dos dois abraçados ainda lá está. Tudo se desmorona novamente, agora o pesadelo volta a ser a sua realidade. Quanto tempo aguentará esses altos e baixos, que esgotam, que nos tornam depressivos, que nos afastam das tarefas do dia-a-dia, da vida com outros, que nos atiram para o silêncio vazio entre paredes. Olhei as mãos esgadanhadas pelo tempo, pensando se vale a pena continuar, se razão há para que o amor doa?


dc

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