"Os seres humanos não nascem para sempre no dia em que suas mães dão à luz. Pelo contrário, a vida os obriga a dar à luz a si próprios, uma e outra vez." - Gabriel García Márquez - EM Cidade do México
sábado, 26 de outubro de 2019
CHILE - O Povo Unido Jamais Será Vencido
sexta-feira, 25 de outubro de 2019
Ele parecia um ser humano que só confiava nos cachorros.
Já não olha, não quer ver o sal dos olhos, os
rostos macilentos, os sorrisos dos outros, o que vestem, como andam. É um
indiferenciado no meio de outros.
Os que o observam, divergem na opinião, pela
incapacidade de o entenderem, nem saberem das razões da sua postura e
aparência. Uns sentirão dor, pensando ter uma cota de responsabilidade, outros
desprezo e muitos outros indiferença ao que vêem.
Senta-se na mesa de bancos altos, chinelos em vez de sapatos, por opção diz ele, roupa gasta, barba por fazer, num rosto chupado, com os olhos escavados, e o tal olhar que não olha, está lá, perdido sem luz. Fica com os dedos das mãos cruzados, unhas sujas, de mãos encardidas, possivelmente por não ter abrigo, ou de andar a catar nos caixotes do lixo. Não parece esperar que alguém entre e lhe ofereça um café, ou um pequeno-almoço que lhe mate a fome atrasada que sempre traz consigo.
Um possível desempregado de longa duração, um sem-abrigo quem sabe? A sua boca tem demasiados silêncios para se abrir. As emoções, os silêncios, o vazio, e, possivelmente as ideias e os pensamentos se perdem, não se conseguindo ligar nem se entender com a envolvência. Sente-se o caos dentro dele, a falta de perspectiva, a capacidade de tomar um caminho, de ter a atitude certa à resposta, se necessária, ou se aquela quer responder. Eu que o observo e sinto que ele sabe, que perturba os outros com a sua presença, mas que lhe é indiferente, ele é uma bofetada social, para a qual não temos resposta, ou não a procuramos. Procurei a sua fala, mas não consegui muito, o seu olhar continuou para além das minhas costas, evidenciando desinteresse ao que eu pudesse dizer para além da sua escuta interior. Ele não era um cachorro abandonado nas ruas a quem tentamos conquistar a sua confiança nos seres humanos. Ele parecia um ser humano que só confiava nos cachorros.
Senta-se na mesa de bancos altos, chinelos em vez de sapatos, por opção diz ele, roupa gasta, barba por fazer, num rosto chupado, com os olhos escavados, e o tal olhar que não olha, está lá, perdido sem luz. Fica com os dedos das mãos cruzados, unhas sujas, de mãos encardidas, possivelmente por não ter abrigo, ou de andar a catar nos caixotes do lixo. Não parece esperar que alguém entre e lhe ofereça um café, ou um pequeno-almoço que lhe mate a fome atrasada que sempre traz consigo.
Um possível desempregado de longa duração, um sem-abrigo quem sabe? A sua boca tem demasiados silêncios para se abrir. As emoções, os silêncios, o vazio, e, possivelmente as ideias e os pensamentos se perdem, não se conseguindo ligar nem se entender com a envolvência. Sente-se o caos dentro dele, a falta de perspectiva, a capacidade de tomar um caminho, de ter a atitude certa à resposta, se necessária, ou se aquela quer responder. Eu que o observo e sinto que ele sabe, que perturba os outros com a sua presença, mas que lhe é indiferente, ele é uma bofetada social, para a qual não temos resposta, ou não a procuramos. Procurei a sua fala, mas não consegui muito, o seu olhar continuou para além das minhas costas, evidenciando desinteresse ao que eu pudesse dizer para além da sua escuta interior. Ele não era um cachorro abandonado nas ruas a quem tentamos conquistar a sua confiança nos seres humanos. Ele parecia um ser humano que só confiava nos cachorros.
dc
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Imagem:Escultura Matteo Baroni
quinta-feira, 17 de outubro de 2019
Abraço sem espera
É difícil esta batalha contra
o tempo.
É possível que tenhas um outro alguém que aninha nos seus braços o teu corpo.
É bem possível que já não tenhas a memória dos cheiros, dos beijos dos abraços.
É possível que te ame tanto quanto eu, ou te seja cómodo estar mais perto.
No entanto, ainda, não me apercebi se fui colocado na redoma dos trastes que não vale a pena conservar. Se a minha voz e as minhas palavras, já não fazem sentido, na partilha das tuas saudades e memórias. Deste lado, ainda vejo as tuas fotografias, e vou por dentro de cada pormenor que revelam, tentando encontrar as respostas, porque sendo a vida tão curta, porquê apequenarmos tudo o que de bom existiu.
Até porque amar é deixar que a felicidade te abrace, que o teu sorriso seja harmonia do teu rosto, que os dias sejam leves como nuvens de algodão. Mesmo que de longe seja somente uma sombra, ou olhar atento, abraço sem espera.
É possível que tenhas um outro alguém que aninha nos seus braços o teu corpo.
É bem possível que já não tenhas a memória dos cheiros, dos beijos dos abraços.
É possível que te ame tanto quanto eu, ou te seja cómodo estar mais perto.
No entanto, ainda, não me apercebi se fui colocado na redoma dos trastes que não vale a pena conservar. Se a minha voz e as minhas palavras, já não fazem sentido, na partilha das tuas saudades e memórias. Deste lado, ainda vejo as tuas fotografias, e vou por dentro de cada pormenor que revelam, tentando encontrar as respostas, porque sendo a vida tão curta, porquê apequenarmos tudo o que de bom existiu.
Até porque amar é deixar que a felicidade te abrace, que o teu sorriso seja harmonia do teu rosto, que os dias sejam leves como nuvens de algodão. Mesmo que de longe seja somente uma sombra, ou olhar atento, abraço sem espera.
dc
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Foto:Diamantino Carvalho
A diversão do gato
Até agora foi diversão, pezinhos
no chão fofo, pisando neve do nevão, saltando e rebolando, sem sentir o frio dando
azo a imaginação.
Sacode à esquerda, sacode à direita, tira a neve do seu pêlo para ficar enxuto, fácil no pentear, depois, é só enroscar-se.
Gato que é gato, gosta com a neve brincar e junto ao fogo ficar a ronronar. Se os humanos se riem, gostam das suas cabriolas, porque não, se gosta de gatear?
Sacode à esquerda, sacode à direita, tira a neve do seu pêlo para ficar enxuto, fácil no pentear, depois, é só enroscar-se.
Gato que é gato, gosta com a neve brincar e junto ao fogo ficar a ronronar. Se os humanos se riem, gostam das suas cabriolas, porque não, se gosta de gatear?
dc
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Foto:internet
sábado, 12 de outubro de 2019
Lembranças
Atravessa o seu pensamento, aquele tempo em que
no banco do jardim imaginava as flores, com que a receberia nos seus braços. Tempo
em que o reflexo dos dias, se resumia à vontade de regressar ao lugar, onde a
natureza era companheira de diálogos secretos e desejos expressos em beijos e
abraços com aroma de flores.
dc
dc
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Foto:Diamantino Carvalho
quinta-feira, 3 de outubro de 2019
Esperou sem tempo
Esperou que ele dissesse para
ficar, mesmo com dúvidas do que queria de si.
Sempre lhe escrevera tendo como assinatura, “Com todo o amor”. Não dizia com isso, que ele tinha de gostar dela, mas que seria intemporal este seu gostar, que serenamente, nela se pousou desde que se conheceram. Parecia ridículo, afirmar tal coisa, na verdade, estar apaixonada e amar é algo que nos coloca nesse patamar, em que os outros não entendem, nem dimensionam e nos retratam como ridículos. Ricos aqueles que amam, pobres aqueles que não sabem ser amados, nem nunca amaram, mesmo doendo, se é que terá de doer, mesmo perdendo, se perder é o outro não ficar.
dc
Sempre lhe escrevera tendo como assinatura, “Com todo o amor”. Não dizia com isso, que ele tinha de gostar dela, mas que seria intemporal este seu gostar, que serenamente, nela se pousou desde que se conheceram. Parecia ridículo, afirmar tal coisa, na verdade, estar apaixonada e amar é algo que nos coloca nesse patamar, em que os outros não entendem, nem dimensionam e nos retratam como ridículos. Ricos aqueles que amam, pobres aqueles que não sabem ser amados, nem nunca amaram, mesmo doendo, se é que terá de doer, mesmo perdendo, se perder é o outro não ficar.
dc
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Foto:Diamantino Carvalho
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