sábado, 19 de setembro de 2020

Afinal o morto continua vivo

"As crises nos acordam para as coisas boas que não percebemos."
Robin Williams num dos seus filmes

Fizeram-lhe o funeral antecipado e, como se isso fosse coisa pouca, ostracizaram-no antes da morte, para que esta fosse mais fácil de acontecer. De propósito? Não, mas com a mesma inconsciência e prática, lhes é proposta por esta sociedade autoritária, dita moderna e democrática, em que o umbigo de cada um maior que a humanidade da qual fazem parte, num apelo insano ao individualismo ao “nós” antes do que tudo. Resistiu como sempre fez. Muitos silêncios, muitos vazios dentro desses silêncios foram necessários, e tempo para muitas coisas dentro de si, mudaram, para encarar a solidão como algo apetecível e lhe dar espaço próprio para pensar, para ouvir o que não se faz presente, reforçar, ou reajustar a sua identidade, com os valores e com evolução da vivência. Foi tempo de analisar possíveis erros e esboçar novos desafios e objectivos. Encontrar pequenas pontas perdidas, na manta de retalhos dos sentimentos e emoções, descobrir novos elos de ligação. Afinal o morto continua vivo, não para assustar nas visitas às campas dos cemitérios, mas para sorrir ao mar, ao sol e gozar o tempo de liberdade numa esplanada "desmascarada" de um qualquer café.

 

dc

Sem comentários:

Enviar um comentário