sábado, 12 de setembro de 2020

Quando o tempo pára

Adorava que toda ela tivesse aquela cor, transparente, do mel. Apaixonara-se pelo seu rosto de olhos rasgados, de um preto profundo, e pelo seu cabelo negro, que no seu esvoaçar, lhe realçava as linhas das faces. A sua boca era carnuda de lábios rubros, entreaberta num sorriso ténue, descobrindo levemente a brancura dos seus dentes. Todo o seu corpo sinuoso insinuava grandes voos, os pés pequenos harmoniosos, apetecendo beijar, as mãos de dedos delicados, completando a palma da mão, sugeriam a seda e sinfonias de carícias. O ventre liso, desenhava e realçava as coxas roliças perfeitas, e um afrodisíaco odor, acicatado pelo desejo, que de si, trazia a promessa incalculável de sensualidade e prazer. A imagem permanecia, no disco rígido. O caminho faz-se caminhando. A realização dos sonhos faz-se, quando nos disponibilizamos para ultrapassar distâncias e continentes se necessário, para que, nos mistérios do “karma”, se encontrar aquele ser que povoa os nossos sonhos e insónias, de modo repetitivo, como se dum dom trazido desde o lugar de nascença, aquele lugar. Agora abraçados, desfilávamos falas, entrecortadas pela repetição dos gestos, que nos enleavam levando-nos cada vez mais longe na descoberta. O relógio deixara de contar o tempo, nada de mais importante havia para fazer se não aquele permanecer.

dc


Sem comentários:

Enviar um comentário