sábado, 30 de janeiro de 2021

COISAS DA VIDA

Olhei a cara enrugada e a sua pequenez, não pude deixar de lembrar-me, como somos insignificantes quando os anos nos tomam e somos envolvidos nas teias que a sociedade nos cria. Ficamos tolhidos, encolhidos, com receio de dizer, não, e fazermos, como sempre desejávamos, o nosso caminho seja ele qual for. Assoberbados pelas despesas a que não conseguimos dar resposta, devido às péssimas condições económicas, dependendo de uma reforma precária, obtida em idade avançada, tememos o pior. Não damos um passo, sem que sejam ponderadas todas as possibilidades e os diferentes ângulos de abordagem. E assim vai, correndo o tempo, sem pudermos abrir a porta a um amor, mesmo que tardio, que poderia tornar mais leve o fim do caminho. Quando a liberdade das obrigações diárias de dezenas de anos de trabalho se esfumam, em vez de nos atirarmos à descoberta de novos mundos e vivendo os momentos de ócio como bem nos apetece, os outros, sejam eles os filhos, os netos, ou amigos, nos vêm dizer que é importante contribuir ajudando, naquilo que afinal só lhes dá jeito a eles próprios e não a nós mesmos. E depois os governantes que sempre dizem preocupar-se com os idosos, aumentam o tempo de vida a trabalhar para quando sairmos para a reforma, estarmos de pés para a cova e o dinheiro amealhado ao longo dos anos fique na mão do estado.

dc

 

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