Olhei a cara enrugada e a sua
pequenez, não pude deixar de lembrar-me, como somos insignificantes quando os
anos nos tomam e somos envolvidos nas teias que a sociedade nos cria. Ficamos
tolhidos, encolhidos, com receio de dizer, não, e fazermos, como sempre desejávamos,
o nosso caminho seja ele qual for. Assoberbados pelas despesas a que não
conseguimos dar resposta, devido às péssimas condições económicas, dependendo
de uma reforma precária, obtida em idade avançada, tememos o pior. Não damos um
passo, sem que sejam ponderadas todas as possibilidades e os diferentes ângulos
de abordagem. E assim vai, correndo o tempo, sem pudermos abrir a porta a um amor,
mesmo que tardio, que poderia tornar mais leve o fim do caminho. Quando a
liberdade das obrigações diárias de dezenas de anos de trabalho se esfumam, em
vez de nos atirarmos à descoberta de novos mundos e vivendo os momentos de ócio
como bem nos apetece, os outros, sejam eles os filhos, os netos, ou amigos, nos
vêm dizer que é importante contribuir ajudando, naquilo que afinal só lhes dá
jeito a eles próprios e não a nós mesmos. E depois os governantes que sempre
dizem preocupar-se com os idosos, aumentam o tempo de vida a trabalhar para quando
sairmos para a reforma, estarmos de pés para a cova e o dinheiro amealhado ao
longo dos anos fique na mão do estado.
dc
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