quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Sou a que sobra

 


Toda eu me desfazendo aos poucos, sou a que sobra deste mundo ensarilhado onde vivo. Todas partiram, algumas de envelhecimento precoce, sem se despedirem. Deixaram-me presa à estrutura enleada, que foi nosso lugar de estar, durante algum tempo. Resta-me esperar uma brisa, ou uma chuva, mais forte, para me soltar e cair na torrente que me levará algures, onde desaparecerei definitivamente, sem que alguém se lembre que já tive cor, forma, cheiro e vida. Breve foi a minha passagem. Julgo ter cumprido a minha missão, por vezes, aliada a muitas outras alegrei, refresquei almas, fui sombra, parceria de bons momentos, testemunha de enamoramentos e abrigo de intempéries. O fruto gerado, já não é mais meu, ou foi tomado por mãos ávidas, ou absorvido no tapete fofo, ou se diluiu em alimento de base. Podia ser humana estória, na verdade, é somente uma folha e seu possível(?) pensar.

 

dc


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