terça-feira, 19 de setembro de 2023

Na periferia do corpo...

 

Não fui capaz de a cumprimentar. Ela condiciona o meu raciocínio. A minha admiração, ao vê-la, tolhe-me, deixa-me envergonhado, tímido, como naquele caso, onde bastaria estender a mão, ou dar-lhe um beijo na face. Falta-me o atrevimento necessário, para ultrapassar a periferia do corpo e acalentar no conhecimento possível. É bem possível, que ela me tenha olhado pelo canto do olho, esperando um gesto meu, na sequência do aperto de mão, que dera ao nosso amigo comum. No entanto, eu nem sequer tinha elevado o olhar, para enfrentar o seu, pois sabia que não resistiria ao seu brilho e cor clara, aquele cabelo que lhe moldava a expressividade do rosto e toda a beleza estética que emana. Da minha boca só saíram frases incoerentes, numa tentativa vã de esconder toda a minha sensaboria, perante alguém cuja presença parece fluir, como é natural nas pessoas dotadas. Eu, felizão, de a saber ali tão perto, com a consciência de que seria o mais próximo que estaria, nunca seria capaz de ultrapassar a periferia do corpo e chegar ao âmago de si própria. Ela sorriu, com a boca e os olhos, e eu, quase fugi, de passo apressado. Ela nunca saberia do alvoroço que me causava, nem como me sentia incapaz de manifestar.

 

dc


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