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sexta-feira, 10 de junho de 2016

Deixa-me dizer: “gosto de ti”




É difícil compreender por que não entendes a palavra, gostar, se ela entre nós tem a mesma força de lei, da palavra “amor” e que ao contrário desta se enrola menos na boca. Deixa-me antes dizer: “gosto de ti”, porque amar será talvez um pouco para mais tarde, quando o romance tomar conta de nós, efectivamente sem volta, entendes-me? Quando já soubermos manter firme a razão de ser, de estarmos. Não desgastemos rapidamente a palavra “amor”, sendo ela já de si tão pequena, melhor será não apequena-la tirando a riqueza do que expressa, sem termos tempo de lhe dar o seu valor, aquele tal valor que incorpora a frase: Para toda a vida!


dc

sexta-feira, 27 de maio de 2016

NOITE, segunda





A noite chegava
O luar se instalava

Eu dormia
O quanto podia

Um gato miou
Algures no telhado

Acordei atarantado
Sorte minha
O pesadelo acabou

Da janela me abeirei
No telhado observei
Dois se enroscando
Gata e gato se amando

E logo pensei
Até quando..

dc


domingo, 5 de abril de 2015

UMA AULA DIFERENTE




Chegou, olhar triste dominando o rosto, cabelo preto curto, meio despenteado. Corpo franzino, de baixa altura e sobre ele um top de malha e umas calças jeans azuis.

Nos espaço envolvente onde entrou, vários homens e mulheres tinham nos cavaletes, ou no regaço, pranchetas com folhas de papel almaço de formato A2, ao seu lado vários riscadores, tintas e pincéis. Preparavam-se para uma aula de desenho de modelo, enquanto iam falando entre si, não se aperceberem da sua chegada. Nas primeiras aulas de modelo, nú, havia uma espécie de constrangimento, as conversas eram mais nervosas. Só ao fim de alguns minutos de poses rápidas e curtas se iam libertando.

Lentamente, se despiu exibindo o corpo magro quase esquelético, sem formas exuberantes, mas suficientemente modelado para o que seria desejável, subiu para uma espécie de palanque e colocou-se em pose. Todas as poses que ia assumindo, de acordo com a vontade do professor, pareciam difíceis, o rosto fazia um esgar quase irónico, ficando depois como uma natureza morta não emanava nada que motivasse quem desenhava. Todos captando a estrutura morfológica, no entanto não conseguiam dar-lhe qualquer vivacidade. A única vantagem que tinham, em relação os modelos de gesso, era que aquele se mexia assumindo posições diferentes rapidamente, o que obrigava a uma capacidade diferente de observar, no resto toda ela era gesso, mas maleável, não lhe chamaria de plasticina, porque a sua pele era muito branca quase morta. Nela toda, havia uma parte que era real, os seus olhos, talvez por aquele não sei quê de tristeza, que assumiam por vezes ironia ou indiferença com que se fazia presente. Emanava a agonia das pessoas que executam algo para o qual não estão destinadas. Era como se quisesse comunicar-nos, que fora a necessidade económica a quebrar-lhe o orgulho e a trouxera até ali, para não precisar de se prostituir fisicamente... o resto seus olhos explicavam

No final da aula, olhei os esboços, neles só via riscos, vivos expressivos, mas o modelo propriamente dito não estava lá, tinha-se diluído nas linhas e nas cores usadas. Não ousara reproduzir aquilo que efectivamente vira. Afinal a aula de modelo nú, não fora tão atractiva como alguns pensavam, tinha mais de humano, mais de amor, mais de sentir, que simplesmente aprender os movimentos do corpo e o seu registo no papel
.

dc

quinta-feira, 10 de maio de 2012

COM A SAÚDE NÃO SE BRINCA


Quando doentes somos uns atrasos de vida. E quando a idade começa a pesar pior ainda. Ficamos piegas, com lágrima ao canto do olho, vendo a inutilidade em que nos tornamos. O mal estar sobrepõe-se a tudo. Não discernimos com correcção perante os que nos rodeiam. "Odiamos" os médicos que não acertam com o mal que nos consome, que mal nos ouvem começam a prescrever como se o que dizemos é o comum de todos os doentes que lhe entram pela porta dentro. Como se cada doente não tivesse as sua própria doença e idiossincrasia. Acho que, quando entramos no consultório do Centro de Saúde, os médicos já estão saturados e cansados de atender tantos doentes que nem capacidade têm para atender devidamente. Não é uma questão de incompetência, mas sim de excesso de trabalho e de empecilhos burocráticos, que por vezes lhes limitam as decisões. 

Quando o Passos veio ao Porto, eu fui lá vê-lo e enviar-lhe uns piropos de agradecimento, altamente justificados pelo que aconteceu depois disso. Ao tentar fazer-me ouvir por ele, na esperança da sua simpatia, fiquei bastante rouco. Primeiro, para não incomodar os médicos, e porque o preço da consulta dobrou, tentei resolver com as mezinhas caseiras. Nada se alterou, o que me levou dias depois a ir ao Centro de Saúde da área da minha residência ver o que se passava. Resumindo, fui a primeira vez sem que os medicamentos fizessem efeito, mas como o médico dissera ser também uma questão de tempo, deixei passar mais uns dias e lá voltei ao centro, para ser visto por nova equipa de médicos que me disseram que, se não doesse nem tivesse febre, o tratamento seria eficaz. Assim fiz. Melhorou, piorou, melhorou piorou e agora, passados dois meses, a tão propalada febre chegou e, mesmo sem dor, terei que ir novamente ao Centro de Saúde. Com tudo isto gastei, em consultas, dez euros, mais os diferentes medicamentos, cerca de vinte e cinco euros. Como vou lá voltar, possivelmente terei de tomar novos medicamentos, esperar que acertem, e pagar mais um tanto. Se não resultar, possivelmente, por fim enviar-me-ão para um especialista, onde irei pagar mais não sei quanto, e esperando que ele tenha vaga nos próximos meses. Entretanto, continuarei com dificuldades respiratórias, a garganta com pigarro, que por vezes me leva a vomitar, e abençoar todas as medidas que o governo tem tomado para que eu possa morrer mais depressa, ou fique com uma doença crónica, ou ainda algo mais grave, que mais tarde dirão que foi por desleixo do doente em devido tempo não ter alertado os médicos. Dasssssss.