Misterioso olhar parado na distância, quase indiferença.
A mágoa, por vezes, arrasta-nos para limites que nos levam a pensar estarmos sem alternativas, que todos sabem existir, menos os próprios.
Enredamo-nos cada vez mais na própria imagem que criamos e sustentamos.
Irritam-nos aqueles que tentam romper o celofane que nos envolve. Viciamo-nos nas manias e trejeitos adquiridos, que vamos mantendo, depois... é difícil parar. Passamos a ser por dentro a pedra de gelo que mantivéramos por fora, como uma garantia de silêncio, e ausência perante os outros. Perdemo-nos no caminho que criamos, sem encontrar o norte ou regresso às coisas simples e comuns do acto de viver
Por vezes se torna pesaroso acordar
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
Um Olhar e Silêncio
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Foto:Diamantino Carvalho
NOSTALGIA DE OUTONO
O sol rompe com dificuldade a ligeira neblina que se instalou no ar. No ar o cheiro do Outono, é acompanhado pelos movimentos e cantos dos pássaros que agitados procuram atentamente encontrar no chão alimentos, para si e família. “Eles ainda estão longe de sentirem a crise”, penso eu. As árvores estão despidas da maioria das suas folhas e muitas já estão podadas ficando visíveis os seus galhos como mãos abertas se virando para o céu.
Olhando atento as diversas árvores, lentamente as fui diferenciando, pela sua qualidade e pela sua estrutura visível de diferentes nódulos, que lhes confere uma anatomia própria e uma linguagem visual que as assemelha aos humanos.
São fruto de uma encontro da semente com a terra, semelhante à copula entre os humanos. Como os bebés, umas nascem debaixo de grandes desvelos que as protegem, outras sobrevivem em condições difíceis. Como todos o seres viventes precisam alimento de sol, ar, água e terra. Morrem de doenças inesperadas, ou crónicas, tendo por vezes, de ser abatidas. São vigiadas e podadas ao longo da sua existência para que tenham força e beleza no crescimento. Os nódulos evidentes na sua estrutura morfológica, são as marcas, as feridas deixadas e curadas durante a sua existência, tal como em todos nós humanos a vida nos vai formatando
Ao olhar mais uma vez, aquelas árvores e o seu conjunto, me pareceu ver uma comunidade, de seres diferentes, mas que se manifestam silenciosamente como fonte de vida, de agradecimento por existirem, cumprindo a missão de nos alimentarem com os seus frutos, de regularem a natureza e nos iluminarem a alma com a sua presença. Assim fossem as vontades dos humanos, em interagirem no sentido da vida, da alegria, da paz e felicidade por existirem.
domingo, 27 de novembro de 2011
SONHO, OU REALIDADE?
Olhei esquadrinhando o espaço, procurando algo que não sabia o quê, parecia ter feito uma paragem no tempo, ou tinha acordado de repente de um coma, vivendo uma outra realidade, que não aquela onde estava inserido agora.
De repente ao sair do sítio onde me encontrava, senti no ar um cheiro diferente. Recuei, fechei a porta e vi a peça de vestuário que restava pendurada atrás da porta, desde a última vês que nos tínhamos encontrado. Ela recolocou-me novamente no presente de forma intensa. Afinal, não tinha sido uma paragem no tempo, nem acordar de um coma, nem um sonho, aquele pedaço de tecido era a prova.
Peguei a peça e apertei-a entre os dedos sentindo o toque suave, do tecido, e relembrei a pele. Aproximei-a do meu rosto e o cheiro do seu corpo misturado com o do seu perfume atingiu-me. Tudo se desenhou aos meus olhos, agora sim, como se surgisse da névoa. Na realidade tinha acontecido romance. O que sentira estava agora bem presente.
Sentei-me, acalmei olhando sem ver, só sentindo, esperando que a realidade se desvanecesse. Não queria que tivesse acontecido, melhor teria sido que fosse um sonho enganador, ou uma paragem no tempo. Sentia que o vazio se podia instalar e o retomar dos dias tornar-se-ia penoso.
O optimismo foi-se sobrepondo, a casa junto ao mar ainda permanecia no esboço, e as mãos ainda se encontravam coladas no caminhar, somente um silêncio límpido, por tempo indeterminado os afastava. Porquê indeterminado, se fora só um momento de dúvida? Porque a palavra estava fora do contexto. Afinal significava “por um tempo determinado “ o silêncio seria necessário. Ufa, que alívio.
Acordou estremunhado e sorriu ao sol. Apreciou os melros saltitando, e cantando no meio do jardim. Sentiu-se beijado pela brisa que corria levemente e pensou para si, “Gostar de ti é tão bom”. Como eco surgiu uma voz nas suas costas, “tu sabes que te adoro?”.
Como é difícil distinguir o sonho da realidade. Talvez os dois se devessem encontrar num momento qualquer, num qualquer espaço e convergiram na realização, talvez até escrevendo "felizes para sempre".
NO "CPF" EXPOSIÇÕES FOTOGRÁFICAS A NÃO PERDER
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O fotografo Juantxu Rodriguez |
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Juantxu agarrado à sua máquina, depois de abatido a tiro |
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Foto de Juantxu |
http://grandmonde.blogspot.com/2011/11/juantxu-rodriguez-no-centro-portugues.html
http://imagesvisions.blogspot.com/2011/05/o-fotografo-que-morreu-abracado-sua.html
http://www.elpais.com/articulo/internacional/RODRIGUEZ/_JUANTXO_/FOTOGRAFO/PANAMA/ESTADOS_UNIDOS/ESPANA/PANAMA/EL_PAIS/INVASION_DE_PANAMA_/20-12-1989/EL_PAIS_/_AGRESIONES/elpepiint/19891222elpepiint_8/Tes
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Juantxu Rodriguez
sábado, 26 de novembro de 2011
FUI. PALAVRA CURTA DE SIGNIFICADO TÃO LONGO
Fui. Diz-se na linguagem dos jovens, significando, “já cá não estou”, “já estou noutra”. Nada mais enganador, quando se fala de sentimentos. Nessas alturas o, fui, disfarça a impotência em permanecer. Não é o fim das coisas que magoam, mas o muito que se poderia ter feito e aproveitado.
Todos os dias tropeçará no toque do telefone no amanhecer dos dias. Todos os dias ficará sem o som da voz que partiu, esperando resposta ao seu mandado.
Não sei se o sol conseguirá abrir a alma com o seu calor e luz, tornando os dias menos longos. Ele espera um pássaro do sul que traga as notícias do seu amor. Do amor que percorre a planície voando sobre as flores e sobe procurando o norte de sua vida.
Indeterminado o tempo do silêncio, para que decorra na sabedoria da vida a decisão de seu querer.
Não é virtual, o espaço que domina o amor deles. É mais uma linguagem de Braille, um lugar físico de toque e abraço, de palavras sonorizadas, com expressões de tonalidades várias. É algo forte saído de dentro, que se sente no ar que se absorve, na brisa que corre.
Calmamente sentado no tempo, entre espátulas, pincéis, espaços brancos, cores, formas e no seio de palavras enroladas na ponta da língua, ele espera as notícias que chegarão sem tempo determinado, mas que dirão se algum dia, mesmo que de forma remota, ele foi, ou será amado pelo aquele alguém cujo amor é há muito esperado.
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Pintura: Diamantino Carvalho
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
Um Amor de Quadro. IX
A chuva caía sobre os seus corpos meios desnudos enquanto corriam alegremente. Brilham na noite com os reflexos das luzes.
Refugiam-se no espaço abastado do seu atelier. Na cama larga, despem o resto dos trapos que os cobrem. Beijam-se. Primeiro em pequenos toques leves, suaves, depois devagar a língua se insinua por entre os lábios, a respiração torna se agitada, a intensidade do seu contacto aumenta, enquanto mãos se buscam. O amor à largo tempo contido transfigura-os. Ela ansiosa pede-lhe que se faça sentir dentro dela. Um ligeiro murmúrio sai dos seus lábios e seu rosto se transforma, com o prazer de o possuir na sua totalidade. Corpos se agitam em dança incoerente, desenhando em pinceladas de sensualidade e erotismo o caminho do clímax.
Saciados, restam deitados, seus olhos brilham e um sorriso lhes ilumina a face. Os dedos dele caminham numa carícia de ternura desenhando-lhe os lábios e a mão vai-se emoldurando ao rosto. Lentamente as palavras se formam, frases melodiosas de amor se derretem nos ouvidos dela como notas de música dedilhadas num piano.
O tempo decorre denso como algodão. Lentamente ela se levanta e caminha nua, em contra-luz, na direcção da janela, o seu andar sensual deixa-o perdido na intensidade do momento que jamais esquecerá.
De repente ela roda sobre si própria expondo-se vulnerável ao seu olhar. A distância deixa-o aperceber-se da totalidade do seu corpo e instintivamente agarra no papel de desenho e no carvão começando a desenhar convulsivamente procurando fixar o momento. Não sabe o futuro, vive o presente fixando-o em linhas e esbatidos de carvão. Mesmo que parta, mesmo que faça doer, o registo fica eternamente marcado física e mentalmente sublinhado pelo cheiro do amor que permanece no espaço.
O dia surge no horizonte e o sol penetra agora o espaço, a meu lado desenha-se a forma do meu sonho, encostado na parede o quadro da minha realidade.
Refugiam-se no espaço abastado do seu atelier. Na cama larga, despem o resto dos trapos que os cobrem. Beijam-se. Primeiro em pequenos toques leves, suaves, depois devagar a língua se insinua por entre os lábios, a respiração torna se agitada, a intensidade do seu contacto aumenta, enquanto mãos se buscam. O amor à largo tempo contido transfigura-os. Ela ansiosa pede-lhe que se faça sentir dentro dela. Um ligeiro murmúrio sai dos seus lábios e seu rosto se transforma, com o prazer de o possuir na sua totalidade. Corpos se agitam em dança incoerente, desenhando em pinceladas de sensualidade e erotismo o caminho do clímax.
Saciados, restam deitados, seus olhos brilham e um sorriso lhes ilumina a face. Os dedos dele caminham numa carícia de ternura desenhando-lhe os lábios e a mão vai-se emoldurando ao rosto. Lentamente as palavras se formam, frases melodiosas de amor se derretem nos ouvidos dela como notas de música dedilhadas num piano.
O tempo decorre denso como algodão. Lentamente ela se levanta e caminha nua, em contra-luz, na direcção da janela, o seu andar sensual deixa-o perdido na intensidade do momento que jamais esquecerá.
De repente ela roda sobre si própria expondo-se vulnerável ao seu olhar. A distância deixa-o aperceber-se da totalidade do seu corpo e instintivamente agarra no papel de desenho e no carvão começando a desenhar convulsivamente procurando fixar o momento. Não sabe o futuro, vive o presente fixando-o em linhas e esbatidos de carvão. Mesmo que parta, mesmo que faça doer, o registo fica eternamente marcado física e mentalmente sublinhado pelo cheiro do amor que permanece no espaço.
O dia surge no horizonte e o sol penetra agora o espaço, a meu lado desenha-se a forma do meu sonho, encostado na parede o quadro da minha realidade.
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Pintura: Diamantino Carvalho
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
NÃO ESPEREM POR VOS TOCAR A VÓS
Primeiro levaram os negros,
Mas não me importei com isso,
Eu não era negro.
Em seguida levaram alguns operários,
Mas não me importei com isso,
Eu também não era operário.
Depois prenderam os miseráveis,
Mas não me importei com isso,
Porque eu não sou miserável.
Depois agarraram uns desempregados,
Mas como tenho o meu emprego,
Também não me importei.
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
Bertold Brecht (1898-1956)
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