domingo, 22 de julho de 2012

INTIMIDADE



"Hoje declarei em casa de uns amigos que a maior prova de amor que um poeta pode dar a uma mulher é a sua intimidade. Escrever versos diante dela é qualquer coisa como parir com um Cristo à cabeceira da cama."

Miguel Torga
Fonte - Diário (1936) Tema - Poeta

sábado, 21 de julho de 2012

LEMBRA DE MIM - Ivan Lins

Um dia as palavras foram ditas e não tiveram eco do teu sentir,

Lembra que foi ele que te deu a mão no correr das ruas. Que te passeou na lonjura do rio, te confortou no areal do mar.

Lembra a sua voz, que na distância foi conforto, e te acompanhava no caminho em que fugias do silêncio.

Fica-te com a memória do acordar, das suas carícias na tua pele, e do afagar de teus cabelos, que nunca retribuíste.

Saboreia o cheiro das árvores no jardim em que foste a flor mais apreciada.

Agarra nas imagens roubadas no melhor de ti e olha-as pensando no que nunca destes, mas em ti foi buscado.

Se depois disso tudo ainda não souberes como se constrói o amor, então terás de reciclar o teu mundo porque não sabes dar-lhe o valor.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

A "ESTÓRIA" DO MACACO


Um noite, cerca das duas horas da madrugada, um individuo que viajava de carro, por uma estrada escura e deserta no interior do país, de repente, sentiu um desequilíbrio no carro. Saiu e viu que tinha um pneu furado. Quando se preparava para o mudar verificou que não tinha macaco para o fazer. Olhou em redor preocupado e viu ao longe uma luz que lhe parecia ser de uma casa. E a ela se dirigiu esperançado.

Como a distância era grande, ele foi pensando na forma como iria pedir aos habitantes da casa o macaco para mudar o pneu. E então começou a pensar como se devia fazer o pedido:

- Olhe o senhor desculpe o adiantado da hora, mas tive um furo e estou sem macaco para mudar o pneu o sr. Podia-me emprestar... O gajo vai ficar f...do a estas horas da noite, pensava ele. Imagina se ele está com a mulher enfim... que se lixe eu tenho mesmo que lá ir. Talvez deva mudar o discurso.

- Olhe eu sei que é muito desagradável acordar alguém a esta hora da noite, mas sabe aconteceu-me um imprevisto.... e se o gajo me manda àquela parte e não me empresta?

Assim foi o condutor se aproximando da casa e conjecturando como faria o seu pedido e matutando como seria a resposta, que para ele iria sendo cada vez mais desagradável.

Quando chegou perto de onde vinha a luz verificou que afinal era um casarão enorme e sumptuoso. Preocupado e já consumido pelas especulações ao longo do caminho, aproximou-se e tocou à campainha da porta, Entretanto na sua cabeça só lhe vinham imagens desagradáveis de como os donos o iriam receber.

De repente acende uma luz e abre-se um janela onde parece um individuo que em voz ensonada lhe pergunta:

- O que é que pretende...

O condutor furioso vira-se a cabeça em direcção à janela e diz-lhe. Não é preciso nada vá-se lixar vá pra ò car...meta o macaco no cú.

(anedota retirada da internet)
Esta estória anedótica, é um bom exemplo do que diz o povo “ Lançou os foguetes, apanhou as canas e fez a festa”.

Muitas pessoas especulam tanto em relação ao que os outros pensam, ou aos seus comportamentos, que acabam por mostrar de si próprios aquilo que aos outros atribuem, ou seja, vira-se o “feitiço contra o feiticeiro”.

"A talho de foice" duas quadro do António Aleixo:

Sei que pareço um ladrão
Mas há muitos que eu conheço,
Que, não parecendo o que são,
São aquilo que eu pareço.

Veste bem já reparaste
Mas ele próprio ignora
Que por dentro é um contraste
Com o que mostra por fora.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

A QUEDA ERA UM SONHO


Saltei voando do parapeito da janela do meu mundo
E senti o vento esmagando a pele, o ar forçado no peito

O pássaro passou por mim rindo a preceito
sabendo que meu corpo morria de qualquer jeito

Na surpresa inesperada de um lugar amortecido
A queda era um sonho no acordar desaparecido

De olhos bem abertos para acreditar na luz do dia
O meu sonho se interrompia e meu voo era agora de alegria

terça-feira, 17 de julho de 2012

VAZIO E SILÊNCIO

Por vezes o silêncio é uma resposta
Por vezes é coisa nenhuma
E outras falta do que dizer
Ao certo não há evidência alguma
Se o silêncio tem razão de ser

Nele a mente encontra o vazio
Fixa-lhe o olhar na distância infinita
Enquanto dentro de si prevalece o frio
Duma alma inquieta que não grita
Nem encontra razões da sua desdita

Voará se o deixarem para terras do além
Sem procurar se a verdade está mais perto
ou se longe na aridez do deserto
Talvez sejam fantasmas e não haja ninguém
Nesse silêncio do mundo que a sua alma tem

segunda-feira, 16 de julho de 2012

O AMOR NÃO ESCOLHE ENCONTRA-NOS(?)



Entre risos e conversas longas, loucas, muito ficou por dizer
Quando na margem caminhavam com o sol e o vento a doer

Palpites e ditos jocosos sobre os sentimentos
Sem ter verdade de raiz, brincando sobre momentos

A cada passo sugerindo outro escrever e pensar
Como se na vida ninguém gostasse da palavra amar

Águas na correnteza em testemunho de alegria
Fixaram a sua beleza sobre a paisagem que surgia

Foi-se lentamente a força do dia e o sol se pousava
E a serenidade parecia restar naquele dia que acabava.

Na verdade restaram as imagens em suporte digital
Memórias de vida em tempo real.


UM OUTRO PORTO


Testemunho de um dia em que a fotografia falou.
Numa tarde de sol em que a gargalhada da boca se soltou
Em outras imagens colhidas muita coisa se viveu
Ruas esconsas que há muito o portuense esqueceu
O registo existe em suporte digital como diz a lógica
Porque pouca gente usa máquina analógica.

A rima aconteceu como a imagem surgiu
De um lugar inesperado que só o fotografo viu