terça-feira, 20 de novembro de 2012

O FRUTO MAIS APETECIDO....

Despia-a da sua roupa harmoniosa, enquanto o fazia, o seu cheiro penetrava nas narinas e ao mais recôndito de mim trazendo à superfície momentos deliciosos outrora vividos.

Toda ela era uma apelo há natureza, um produto maravilhoso, que nas terras de antigamente causava furor, enchendo as praças dos lugares com a sua presença alegre, e a sua vestimenta ao sabor da época.

Infelizmente, como o decorrer dos tempos, as coisas se têm alterado, agora qualquer bicho careta troca a sua fibra, o seu cheiro, o prazer da sua roupa, o saborear do seu corpo sumarento, por aquelas mal amanhadas jovens vítimas de enxerto que se assemelham, mas não tem a sua qualidade. São loiras platinadas sem sabor, sem riqueza, sem memorias e sem futuro. Desenxabidas, que não apelam ao calor da nossa boca, nem nos preenchem o prazer de saborear na calma, repetindo o gesto e abusando até ao limite da satisfação de prazer tão íntimo.

Hoje, pude repetir o ritual da posse, e do prazer de a poder despir das suas vestes, usufruir do seu cheiro, poder olhar a sua pele esbranquiçada, retendo as suas formas na minha mente, antes de a saborear até ao mais íntimo de mim, cada bocadinho, cada saliência a sua pele interior, sentindo-a desfazer na minha boca.

Hoje, tive a sorte de te voltar a reencontrar e reviver momentos tão agradáveis como há muito não vivia. Eras a minha rainha da festa, nenhuma das outras tinha o teu brilho, ou beleza, e assim pude mais uma vez ser feliz, quando já desacreditava que pudessem voltar a fazer-te apreciada.
.....




Hoje, ao entrar na frutaria, verifiquei com prazer que as nossas tangerinas bem portuguesas, bem cheirosas, bem saborosas, tinham novamente conquistado o seu lugar depois de tanto tempo afastadas por uma Europa que não lhe reconhecia tamanho ou competência. Para mim, se na altura das festas natalícias se não houvesse tangerinas das nossas tudo era menos brilhante, pois nessas alturas deliciava-me comendo quantidades universais sem que sentisse satisfeito ou cansado de o fazer.

Serviam para abrir o apetite, para desenjoar a meio das refeições, para matar a sede, para ajudar na digestão, etc. etc. Tudo isto servia como desculpa, ou não, para continuar e justificar comê-las, saborear o seu cheiro e sentir o seu sumo escorregando pela garganta abaixo.

Ainda bem que se começam a recuperar os produtos da nossa terra, e a dar-lhes o lugar que merecem à mesa dos portugueses.

Escusado será dizer que comprei uma quantidade bem razoável de tangerinas...

DC

domingo, 18 de novembro de 2012

ATRÁS DAS CORTINAS

O sol realça as múltiplas ondulações dos cortinados brancos da sala, criando sombras de intensidade variada. A estrutura da janela reflecte-se no cortinado como se tivesse sido desenhada por um bêbado, compondo um quadro com variações de desenho permanentes, de tonalidades, luz e sombras

Um pedaço de pano que amortece a luz do sol com a seu calor e brilho e um mundo de silêncios, de quem de dentro observa, como um outro quadro de desenho único feito de tinta preta que se fixa numa parede invisível.

As rotinas, entre quatro paredes, marcam a mente, como um AVC deixando efeitos residuais inalteráveis quando da passagem por um corpo. São gestos estereotipados que restarão para sempre na pele do individuo, mesmo que um dia o silêncio se vá, mesmo que o dialogo surja, mesmo que o espaço seja cortado pelo ruído de outras vozes, mesmo que um dia por hipótese se divida a pasta de dentes. A glorificação do espaço e do silêncio ali estará presente e tornar-se-á um empecilho ao sorriso, á reformulação do seu modo de estar.

Os dias, mesmo quando o sol está presente, são frios e tristes, amortecidos pela névoa da realidade, cada vez mais dura, num país que não lhe reconhece o contributo para o seu enriquecimento.

Preparado para o trabalho e para as necessidades de um sociedade que o não vê como individuo, ele se vai esfriando e desaparecendo pessoa, para se tornar um robot dos interesses políticos e sociais e vai desaparecendo como individualidade com emoções, relacionamentos, vida.

Tiram-lhe, direitos agravam-lhe os deveres, e esperam que ele se vá escorrendo pelo sofá da dignidade e fique emborcando a brutalidade do isolamento, até que resolva deixar-se ir, num dia, em que o preto da sua alma seja da mesma “não cor” do pó que foi seu corpo.

Acredito que ele os vai chatear, porque como diz o povo “a esperança é a última coisa a morrer”, e como tal não lhes fará a vontade. Ele como muitos acabará por engrossar as fileiras dos descontentes e quebrará o seu mutismo gritando bem alto a sua revolta juntando-se aos milhares de vozes que se recusam a ficar por trás das cortinas esperando que a mudança aconteça.


DC

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

MARCAS DE "VIOLÊNCIA"


Esta, é uma das marcas da minha violência no teu corpo. Gosto de exercer esta minha violência sobre ti, deixando toda a tua pele macerada. Quero que sintas, em todos os minutos da tua vida, a minha brutalidade incorporada no teu corpo, como um ferrete, para que se reconheça a razão do teu sorriso, a serenidade do teu olhar, o tua aceitação desta minha forma de manifestar amor.

Bem ajas por me aceitares tal qual sou.

DC

FICO-ME PENSANDO..



No banco do jardim sentado observo a liberdade dos pássaros que alegremente enchem o espaço com o seu chilrear. Fico-me pensando no crime que é, fecha-los em gaiolas, como alguns fazem pelo prazer egoísta de terem os seus cantos só para si, mesmo que isso signifique roubar-lhes o seu voo e a liberdade.

A eles, aos pássaros, não se lhe conhecem guerras, com mortos e feridos em combate. Eles nas suas desavenças, por natureza raras, somente aumentam a intensidade do seu um chilrear e uma ou outra bicada. Nada que se compare com os chamados humanos, que sempre se digladiam até pelas coisas mais comezinhas e se habituaram à carnificina das guerras das bombas de Hiroshima, Nagasaki.

Fico-me pensando.... Já não falamos de amor de beijos, abraços, carícias, desejos, dos cansaços nas noites em branco de muitos amores feitos, com intervalos de risos de morango na boca. As nossas conversas, de todas as horas e em todos os lugares, perdem-se na crise, na austeridade e na corrupção que nos rodeia. Os planos morrem na contabilidade do fim do mês e o futuro não pode ser planeado mais longe do que a hora do jantar.

Tentam tirar-nos, o prazer de nos sentirmos vivos, de estarmos vivos, de nos sentirmos humanos. Será que conseguem? Quero crer que não.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

NOITE SEM SOMBRAS E SEM LUA

 Reclining Nude, 21" long, Danby Marble, by Art Wells.
Estou parado olhando, mas não vejo.
Sinto só o calor dos lábios no teu beijo

A noite não tem sombras nem lua
Sentimos pelo cheiro da pele nua

Pelo vai e vem das marés nos corpos
A certeza de que não estamos mortos

Acordo todos os sentidos de teu ser
E nos meus dedos sinto o teu viver

É nessa noite sem sombras e sem lua
Que te entrego a minha alma nua

Nessa noite de marés sem tempos mortos
Sente-se o vai e vem dos nosso corpos

Até que restem entre abraços amplexos e beijos
Os nosso corpos húmidos de seus desejos

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

REFLEXÃO...DEFLEXÃO...

Às vezes dá-me para pensar nas razões, que levam, hoje em dia, a tantas separações e divórcios. Meto-me onde não devo, mas gosto de divagar sobre o assunto.

Alguns de nós pensamo-nos tão bons para quem amamos, que nos esquecemos do que o outro gosta, ou do que ele quer na relação. Esquecemos, que somos alterados e alteramos pela partilha. Esquecemos que o nosso enamoramento por determinada pessoa, de um modo inconsciente, se deve à resposta que ela nos dá às nossas necessidades emocionais. Por vezes, pensamo-nos tão bons que nem admitimos sequer que já não goste de nós, ou até, que nunca nos tenha amado.
Não aceitamos de modo fácil as diferenças, como se amor tivesse de ser entre duas almas gémeas. Na verdade, se assim fosse, seria uma seca de todo o tamanho. Tal falta de diversidade tornaria a relação monótona, e na maioria das vezes, estaríamos a falar para o umbigo.

Em especial nos machos, existe a mania de se pavonearem agitando as performances físicas, económicas ou sociais, para se sentirem superiores, ou para se convencerem: “ já está no papo”. Se tudo fosse tão fácil, nunca o amor seria objecto de procura, nem tão pretendido.

Não raras vezes falta a honestidade, franqueza no falar, assumir o que pretendem. Resultado? Vidas em comum mal construídas. Por vezes, uma amizade sadia torna-se um namoro imperfeito. Somos nós, eles ou elas, que ao assumirmos esse tipo de comportamento vamos criando anti-corpos, estabelecendo a nossa própria noite, e com ela a escuridão, que se entranha no corpo absorvendo e sugando a energia, tirando o vocabulário das emoções, fazendo esquecer a luz que procuramos. Depois, depois restam os tempos perdidos em estórias mal escritas, que deixam mágoas e mazelas tão profundas, que tornam cada vez mais difícil encontrar o que tanto se procura.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

HOEJ..OHJE...HOJE



Não posso pensar mais do que no dia de hoje. Hoje é presente e nele temos a certeza que as coisas acontecem. ontem não deu, e não vale a pena justificar porque já passou, nada irá remediar, a não ser, fazer com que hoje não volte a acontecer. Amanhã, ainda não existe, e não posso especular, se não perco horas a pensar no que irá acontecer e não poderei viver o dia de hoje, sem desfrutar e com a atenção necessária para que não seja o mesmo fracasso de ontem, que não deu.

Viver intensamente o presente colhendo o máximo, porque de certeza o passado será esquecido, e naturalmente, sem pensar em futuro, este será construído, com toda a certeza, pela riqueza do hoje.
"Cuida el presente porque en él viverás el resto de tu vida."
Facundo Cabral