
Quando às dores do
corpo se juntam, às que dentro nos consomem, a vida se inferniza e só queremos
que tudo pare num instante. A vontade de resistir se esvai e aproveitamos os
intervalos, em que ela se suspende, para ficarmos como aturdidos sem pensar.
Por vezes as lágrimas correm não pela dor, mas pela sua ausência, que nos
permite segundos de felicidade.
Se acreditássemos que temos o destino traçado, teríamos de descobrir quem foi o
“Filho da Mãe” que o fez assim. Com direito ele decidira que teria de ser tão
mau...e que a dor deveria estar escrita nos ossos, na pele...e dentro apertando
como um torniquete, lentamente, retirando-nos o discernimento e o ar com que
respiramos?
Onde está a felicidade? Como a percepcionamos? Porque a desejamos tanto?
Não existirá ela, só no intervalo do infortúnio, da brutalidade da vida, Aí ela
se faz sentir, curta, somente intervalo, para a chatice da continuidade, Daí o
desejo, daí a sua valorização pelos humanos. Quase me atreveria a dizer, que
felicidade e saudade, são parentes próximos, a ausência de uma ou de outra
tirariam a percepção real do sentimento que elas representam em nós. Será?
Assim penso eu neste dia menos feliz, onde duas dores se misturam, e um momento
de paragem poderia ser felicidade.
dc