quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

A vida é isto




Podia ser uma quarta, ou até um fim de semana, quem sabe se não fosse por engano, poderia ser um qualquer dia do ano. Poderia ser uma aventura, sem malícia, um encontro às escuras com regras às claras. Aconteceria e depois se veria, se valesse a pena talvez se repetisse, e o encontro do ano deixaria de ser por engano, passaria para outro estar, sem necessidade de acabar.
Não foi assim que aconteceu, ironia das ironias, a estória tinha pernas para andar, com os condimentos necessários, tinha romance, sentimentos e palavras de longo alcance. Infelizmente o avião caiu, ele morreu e a estória se perdeu. Trágico? Não, a vida é isto.

dc




sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Não esqueças..




Se há coisa que desejo, é que não esqueças, que te lembres sempre de mim, para sempre de mim. Que eu seja, na tua memória, mais do que um passagem, mais de que um momento fugaz, Que eu seja uma marca eterna como diziam as tuas palavras. Foi bom ouvir, que fui diferente dos demais e que valeu a pena cada minuto que nos dispensamos, cada noite até furar o dia, cada dia se prolongando como se não existisse relógio ou tempo. Revelávamo-nos, descobríamo-nos por etapas como a querer sabroear cada descoberta com doce e champanhe, como se cada coisa nova, deixasse um perfume, um viver diferente entre nós, demarcando as descobertas umas das outras. Cada momento com seu registo, o motivo de recomeço na procura de outra e outra diferença e outra novidade, sempre crescendo, sempre ganhando espaço, no nosso espaço, prepétuando sentimenos indiscritíveis.
Sim houve coisas más, tristes, que doeram, mas para que falar nelas agora, se o que ficou apaga todo o resto. Por isso, passam os tempos, e de repente saltam para os olhos da mente, como um flashback, todas essas formas de amar, que guardo religiosamente como um segredo só nosso. Por isso, não te esqueças, mesmo que outras estórias aconteçam, a nossa, é memória que não se dilui através dos tempos.


dc

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Página única




Deixei que me escrevesse na pele com teus dedos, Era a frescura do primeiro encontro, envolvida na seda da tua ternura, na doçura das tuas carícias, no voo para fora de mim. Quis que fosse uma estória com registo único, de um amor primeiro, que será sempre primeiro, mesmo que outros surjam. Foi feito com a tinta indelével do amor que dentro nós cresceu. Uma página de leitura obrigatória, quando aos olhos se revela, um testamento de intenções, das coisas vividas. É o testemunho dum nós acontecido que ultrapassa a forma do corpo, e trás à superfície a beleza, do que somos um face ao outro, dentro do outro, um com o outro.
Nos dias de ausência, de olhos fechados, seguirei com a ponta dos dedos cada letra..completarei frases e reviverei cada momento, sentindo teu cheiro, os teus beijos e o teu corpo em cada milímetro escrito na página que me deixaste. 


dc



domingo, 20 de novembro de 2016

DESINTERESSE




Ficou-se pela promessa, deixou a esperança caminhar, adentrando o peito, alimentando a ânsia do encontro. Tudo permaneceu hipótese, com o sangue correndo pelas veias, as ideias a fluírem e a tristeza a instalar-se com o passar do tempo.
Os dias foram correndo, sem a percepção que se aproximava o acto final. Quanto mais se conheciam mais temiam o percurso e o que viria a seguir, foram perdendo a espontaneidade, e a possibilidade de fracasso se instalou.
Temiam perder o seu espaço, a materialidade, a capacidade de decidir do seu tempo e da sua liberdade. A autonomia que pareciam possuir era uma armadilha, na realidade estavam tomados pela vontade dos outros, pelas regras, que não as deles, que punham limites, moralidade, determinavam comportamentos suprimindo o seu próprio querer. As desculpas se foram multiplicando, as frases faziam hipérbole para não se dizer o que à boca surgia. Cada um se individualizou, ainda mais, deixando-se enrolar na teia que aumentava e ia travando os seus passos. Foram-se esquivando de assumir a tomada de consciência, de que já eram eles próprios criadores das suas circunstâncias. Estagnaram e lentamente se deixaram morrer dentro do seu casulo, sem se darem á possibilidade de o romance acontecer. Não sobreviveram a si próprios.

dc