quarta-feira, 19 de setembro de 2018

A vida nem sempre é amor




A vida nem sempre é amor
Nem sempre felicidade
Tem até momentos de estupor
Perante a crua realidade

E com isso..

Uns esgotam-se, outros não
Uns têm pão, outros não
Uns lutam, outros não
Uns correm, outros não
Uns sonham, outros não
Uns amam, outros não
Uns vivem, outros não
Uns trabalham outros não

Uma cacofonia de sins e nãos.

E assim, por isso...

Alguns detestam, as tardes sem sol
Outros as tristezas e o mal
Alguns vivem com alegria
Outros são indiferentes à noite e ao dia
E outros ainda numa vida sem sal.

Assim decorre o tempo
E a isto se chama viver
Neste mundo moderno.
Seja para uns o eterno prazer,
Para outros suportar o inferno.

dc


segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Tenho fome de ti





Tenho fome de ti

de sentir tuas mãos
na força com que me apertas
quando dizes em sussurro
as palavras certas

Tenho fome de ti

mal o sol amanhece
e o calor do teu corpo
o meu enlouquece

Tenho fome de ti
A toda a hora e instante
desejo sempre tocar-te
estejas perto ou distante
Tenho sede de ti

De sorver teus lábios
cheios e húmidos de desejo
onde de me perco quando te beijo
Tenho saudade de ti

Ainda não partiste
mas sei pelo teu acenar
que não podes ficar

Tenho esta fome,
sede e saudade de ti

Quando não sinto as tuas mãos
quando não te posso tocar
quando não te posso amar e beijar
quando partes sem mim.
dc





terça-feira, 11 de setembro de 2018

Viagem



Caminhava paredes meias com o presente e os locais de memórias passadas. O cheiro do mar chegava-lhe com o pronuncio das marés, como o perfume do seu corpo e os gestos de sedução quando de perto se envolviam. Olhava a baia e pousava o olhar nesse pequeno movimento que a água do rio faz na sua entrada no mar. Imaginava golfinhos acompanhando-o com os seus “gritos”, trazendo paz e alegria ao seu pensamento.
No lugar de espera, ela colocou o braço sobre o seu, no lamento da partida, adentrando-lhe a alma com esses olhos verdes, que se tornaram o seu a’mar e sua companhia nas centenas de quilómetros do regresso.

dc

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Antes que me vá




Antes que me vá, escrevo-te mais uma vez, mesmo temendo que rasgarás da consciência as minhas palavras. Não importa, quando se gosta corre-se o risco de sermos patetas, de não entendermos bem o mundo dos outros, que se consideram normais. Pateta o suficiente, para te levar comigo, mesmo que ausente, mesmo sabendo-te longe e indiferente. Quero no entanto esclarecer-te. É possível que sintas o ar carregado de um pronuncio qualquer; tão perto me farei sentir. Dizem que é possível comunicar sem fios, sem imagens, que existe telepatia. Será? Na certa irás confundir o teu olhar, ou teu pensamento, naqueles que cruzam contigo, estabelecerás semelhanças, confundirás vozes, procurarás insistentemente à tua volta, como se te sentisses observada. Na realidade, eu estarei tão perto, que sentirás o pulsar do meu coração, a minha respiração, a expressão do meu olhar, a vibração do meu corpo como quando estava perto de ti. Não me perguntes a razão de tudo isso, sei apenas que a força do meu amar é suficiente para que fiques na proximidade do meu querer. Sem obrigação, sem imposição, tudo acontecerá nas linhas que alinhavam os teus panos emocionais, os teus dias de vivências e as horas dos teus silêncios. Nesse coser das horas, umas nas outras, perceberás do corte erróneo, da cor e da falta de adequação entre o sonho do que querias e o modelo real. Só nessa altura me sentirás mais perto do que desejas. Escrevo-te com a seiva das flores, com os seus cheiros diversos, com o colorido com que enriquecem os nossos jardins e sobre o pano verde, onde deitado, olhando o céu, te verei mais perto desse caminho do reencontro.

dc