Esconde os seus segredos, como
todos, nas coisas mais ínfimas que o constroem. Não revela os dias que chora,
os dias que odeia, as dores que tem, as angústias que o dominam. Na falta de
dinheiro aparenta não ser pobre, na fome o sorriso de barriga cheia, usa a
indiferença, perante o máximo interesse que o seduz. Os seus sonhos, são
escondidos debaixo do colchão onde dorme, ou ficam disfarçados, naquele aspecto
de sem-abrigo a dormir em soleiras de casas abandonadas. Mitiga a ausência dos
que ama, o vazio, o silêncio que escolheu, protegendo a alma com folhas mortas
que o outono da vida vai despejando sobre ele. Não vê o circo quase desde que
se conhece como “crescido”, não precisa, é o palhaço que enche o espaço diário
dos outros com sorriso afivelado, como se fizesse stand up soltando palavras em
ritmo crescente com as gargalhadas dos espectadores. A verborreia solta-se-lhe
com a mesma alegria, com que um burro zurra, recusando a pressão do dono para
que ande. Lê para “matar o tempo”, na realidade escondendo a ignorância, da
mesma forma, que outrora usava tintas para se simular capaz de pintar os dias
dando-lhe cor. Esconde a incompetência, falando da competência dos outros, como
as performances de artistas que sentem a necessidade de explicar a arte.
Na realidade vive uma vida de
faz de conta, de esconde, esconde para não ter de enfrentar a pergunta a que
não quer responder. Duvidam que o invólucro tão vistoso, seja um raro
solitário, num vaso onde se contém a vida. Olham-lhe a pele, pensando não ser
hipótese de futuro. Afinal não deixa pistas por onde comecem a investigar, ou
para acreditarem que o tempo que lhe fez a sua marca e lhe trouxe a sabedoria
da prática, não a inteligência, para perceber que o futuro é uma mancha difusa
como uma manhã de nevoeiro onde não se enxerga a forma.
O segredo, na totalidade, tem
sido serenidade de passar os dias,
afastando o fantasma da
proximidade do final desta aventura que se chama existir.
dc