Estava sentado na esplanada
da praça, quando a viu do lado oposto ao seu, aconchegada a ele beijando-o. À distância,
era impossível que ela o pudesse ver, daí o registar, à vontade, o que via. Muitos
meses tinham decorrido desde a última vez que se viram e falaram, e outros
tantos necessários de adaptação à sua ausência, no seu quotidiano. Sentiu o ciúme
normal nestas situações, manifestado pela saudade de momentos semelhantes de
outrora. A imagem tinha os mesmos elementos visuais, igual expressividade,
conforme registo em seu arquivo. Tudo corre como tem de correr, não se consegue
alterar, enquanto a vontade for de um só. Aquela cena funcionava em gesto mímico
levado à mente, uma espécie de registo digital com os “píxeis” necessários para
ficar visível com a mesma qualidade do arquivo na memória. Quando ocorrem estes
encontros inesperados, pensamos, e repisamos, procurando encontrar as razões
para nossa incapacidade de conseguir pensar com o coração e sentir com o
cérebro, tornando perenes os sentimentos, que um dia, nos trouxeram o brilho da
alegria aos olhos e o prazer de viver.
dc