quarta-feira, 12 de abril de 2017

Sem ressentimentos




Sem ressentimentos, ficou feliz vendo seu sorriso de alegria, olhos flamejantes, num rosto sem sombras, sem nostalgia, Por fim, livre de todos os pesadelos, livre do peso de coisas más do passado e de outras boas que já não fazem sentido, avança para o novo.

Deixar partir, o outro, é importante para o nosso próprio bem estar, só assim ficaremos capazes de encontrar um caminho e aceitar a mudança.

O apego é, na maioria das vezes, aquilo a que chamam amor. Na verdade,
o amor não será antes, sermos desprendidos o suficiente para amar, mesmo quem deixou de nos amar? O nosso amor, é nosso, independentemente do caminho que o outro segue, não deixaremos de amar, se ficarem intocáveis os valores e o respeito mútuo. Amamos incondicionalmente alguém, pelo que é no seu todo, não pelo que queremos que esse alguém seja, Se amamos alguém, não procuramos nele a semelhança, o repetitivo, o igual a nós, mas quem nos aceita a dissemelhança e vice-versa. Amor um sentimento, um espaço de emoção, dentro de nós, do qual o resultado será o justo beneficio de cada um, em valores e qualidades individuais, e cuja soma será maior que a junção das partes. Na sua união se gostam, se respeitam, se encontram, sem perda da sua individualidade, que os tornam únicos perante si. Por isso..

...sem ressentimentos, aceitou a sua partida para um novo projecto, um outro viver. Importante é que, procurando ser, ou sendo feliz, impediu a manutenção de uma dupla infelicidade.


dc



terça-feira, 11 de abril de 2017

confidência




“Face lisa, sem botoque, umas pequenas rugas nos olhos, não da idade, mas pelo olhar intenso que faz ao cerrar os olhos, como se quisessem adentrar. Olhos belíssimos, negros, enormes, trazem vida à boca de lábios vermelhos cor de cereja.
Do resto, é melhor nem falar, é demasiado para ficar indiferente. Uma morfologia física a não desdenhar e uma capacidade intelectual acima da média.  Ela e seu encanto, trazem-me o sorriso aos lábios quando a vejo, seus dedos têm a leveza da borboleta quando me percorrem o rosto. As sua mãos, são macio veludo com que agarra meu rosto e me beija boca, como que sorvendo um fruto. Beijo molhado, corpo se enroscando, se aninhando em meus braços voando para dentro de mim.
Horas sem sentido falando, beijando, indo mais longe, descobrindo que o sabor da vida é um nós que se vai instalando, não deixando lugar a dúvidas, confiantes no que temos e conquistamos.”

Em jeito de confidência, foi assim que ele me descreveu o amor da sua vida. Numa alegria de criança, de voz agitada, mãos desenhando no ar arabescos, com agitação de uma performance em tela de Pollock*, Só não dava pulos no ar, mas voava, sentia-se que voava, mesmo de pés assentes no chão. Sentia-se a leveza na expressão do rosto, todo ele era felicidade.
Eu, que o ouvia, deliciava-me por perceber que a sua contagiante alegria era uma mensagem, um alerta de esperança, para os menos esperançosos, de que a qualquer momento, nesse caminhar dos dias, se pode dar uma topada e dali surgir o seu “ai jesus”.

dc


*Paul Jackson Pollock foi um pintor norte-americano e referência no movimento do expressionismo abstrato. 



domingo, 9 de abril de 2017

FIOS




Se as palavras ditas na doçura do instante, se perderem das memórias futuras, talvez os fios, que pretendiam como construção da seda do seus existir, fossem somente um imaginário, ou se partiram na tecitura do seu enlace.


dc

na verdade..




Brisas
leves
levam
pensamentos
pesados

Ficam
vazios
silêncios
instantes
desapegados

Insensível
parte
novos
sonhos
nascem

Real
a verdade
torna
a mentira
morta


dc