sábado, 15 de dezembro de 2018

Estou vivo!




Esperando, na espera de todos os dias, que um corpo leve se lhe pouse e com alegria voe no espaço soltando gargalhadas sonoras.

Olho, a figura recortada contra o céu e o rio, lançando o desafio atrevido a quem passa, de ali se sentar e baloiçar, a usufruir da brisa e sentir o prazer, que à pele traz um arrepio.

Todos os sonhos regressam, todas as memórias saltam para o presente. Apetece correr para ser o primeiro a sentar-se e começar a viagem, naquele esticar e encolher de pernas, que quebram a inércia, enquanto as mãos firmes se assenhoram das correntes na segurança do voo.

Um dia, criança de rosto trigueiro, agora com a pele enrugada, o mesmo desejo da garotada, um voo pleno entre os gritos das gaivotas, sentindo leveza no corpo e uma vontade enorme de gritar: Estou vivo!

dc

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Engrenagem



Cada dia é um dente
Correndo o risco de partir
Nada dura para sempre
Não vale a pena carpir 

Se não cuidarmos de nós
Mesmo existindo em par
Um dia acabamos sós
Incapazes de recomeçar

Não importa muito sonhar
Se pararmos no tempo
A intempérie faz enferrujar
E impede o desenvolvimento

O amor só é completo
Com dois no mesmo querer
O contrário é um deserto
Num vazio que faz doer

Falso sentimento de liberdade
Esse fechar de portas ao coração
Definhamos no vazio e saudade
Das memórias em solidão

Acabamos presos nas engrenagens
Neste enrolar da roda da vida
Noite e dias de dolorosas viagens
Sem ter a missão cumprida


dc


 

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Folhas como pássaros



Cada folha, um pequeno pássaro pousado aguardando seu voo, cada galho, um braço, a seiva o sangue que alimenta, e um tronco um corpo vivo agarrado à terra.
Fico-me pelo olhar, absorvendo a espectacularidade deste fenómeno da natureza. A imaginação é tão fértil como a terra que o suporta. As árvores são um amor à primeira vista, que seja qual for o momento que se me deparam encantam. Tem vezes, que só por timidez, não as abraço procurando vivê-las, como uma namorada que tanto se ama e deseja. Pena é, que nem sempre as escolham de forma adequada a cada lugar e não façam delas a presença protegida e obrigatória no respirar dos seres humanos, tal qual o parceiro da nossa vida.

dc

domingo, 2 de dezembro de 2018

Hoje é domingo



Hoje domingo de dezembro
de dois mil e dezoito,
já nem sequer me lembro
quando fui tão afoito.

Acordar mais tarde,
sem o tempo contar,
e matar a saudade
a dois no verbo amar.

Depois a paz se instala
no calor dos lençóis,
cada um se cala,
sentem-se dois girassóis.

A preguiça saudável
que não traz o passado,
torna mais amável
o companheiro do lado.

O dia assim começa,
saindo de casa para a rua,
num viver sem pressa,
sem sentir a realidade crua.

Hoje o dia é de descanso
convivência e nada fazer,
a não ser o amor que não canso,
que me dá tanto prazer.

dc


sábado, 1 de dezembro de 2018

Príncipe e a Princesa



O príncipe à princesa de outro reino longínquo, se confessou, dizendo não ser Rudolph Tarantino, tinha nome mais curto de romana procedência. Ela se encantou pelo toque latino, mas gostava mais do outro que no seio das cortes era ladino. E ao príncipe deu uma certeza, e assim falou, que desse esperança à natureza, pois, foi assim que Eva a maçã trincou.
Triste o príncipe, para o palácio se foi, montado num cavalo que mais parecia um boi. Com a esperança perdida, de sonhos desfeitos. Fechou-se no pequeno palácio com as gentes do reino, sem encontrar a paz, nem engenho para tal princesa loquaz.
Cem dias passaram e o príncipe virou rei e uma camponesa o enlevou, não era da realeza, mas era bela e delicada a mulher, que com a sua inteligência e beleza logo o conquistou. Marcado o casamento e em todo o reino comunicado, da coragem de tal rei, que trocava mais riqueza, pela mulher de saberes mesmo oriunda da pobreza. Soube a tal princesa do acontecimento e logo ao palácio do príncipe ocorreu montada num jumento, tentando impedir ao agora rei, que outrora rejeitou, no seu acto desabrido, daquele agora rei era pelo seu povo muito querido. A princesa nem no castelo entrou o rei quando soube logo tomou medidas para que tal princesa não tivesse guarida. Assim se foi a princesa de cabeça caída
sem rei, nem Tarantino, para resolver o seu destino.
O príncipe, agora rei, não se arrependeu, a sua decisão para sempre prevaleceu e o seu povo agradeceu.

dc

“Quem se envaidece, pelo reino de qualquer Rudolph, sofre de desatino, por isso não poderá ser rainha de um rei ladino”
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