sexta-feira, 9 de março de 2012

ESPERA



O comboio chegou. Submerso nos seus pensamentos, ele não via as pessoas passarem de um lado para o outro com as suas malas de diferentes tamanhos. olhava sem ver. ele tinha ido para ali, sem saber por quê, como se precisasse de confirmar o que já suspeitava. nunca mais se veriam. ele desfasado no tempo, ela vivendo em outro tempo. A única coisa que o fazia, de vez em quando, mexer os olhos era o brilho dos carris, com os reflexos do sol do fim de tarde. estático ligeiramente curvado sobre si próprio, não sentia o mundo que o rodeava. seu corpo se transformava, conforme a noite surgia.
O comboio previsto, chegara há muito tempo, e depois disso ninguém o vira fazer qualquer gesto. transformara-se num dos muitos homens estátuas, só que sem chapéu para receber os donativos. Com o decorrer das horas começaram a aparecer, no seu corpo, pequenas alterações morfológicas, que se foram acentuando, conforme a gare diminuía a sua actividade.
No raiar do dia, quando um novo comboio chegou, vindo do mesmo destino, ela saiu e olhou para o lugar onde outrora o corpo estivera, e viu uma árvore cheia de flores. Conforme se foi aproximando reparou num pequeno letreiro que dizia: Árvore originária, da Ilha dos Amores, conhecida por “Minha flor”. Parou, tirou uma flor cheirou, e se evaporou. Há quem diga, que com ele se encontrou, num outro mundo onde para sempre o amou.

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