sexta-feira, 1 de junho de 2012

O HORIZONTE SUGERIA-LHE ESPERAR
















Tenta apagar com a borracha do tempo. No entanto a cada momento encontra vestígios da sua passagem. Letras, palavras, frases preenchendo folhas; imagens várias com poses diversas, em diferentes cores e locais; resíduos de cheiro e objectos pessoais. Partiu já faz muito tempo, e deixou seu rasto marcando-lhe a vida daquela maneira. Como poderia ele, tão de passagem, ter-lhe feito tanta dor.

Procurava junto das amigas, quando em conversa, como se fizesse uma catarse, descobrir o que teria acontecido para que aquele amor mantivesse vivo, arrastando-a para uma dimensão que não percebia. Ouvia-as fazendo juízos, descrevendo, seus modos, formas de estar, sua intelectualidade, seu corpo, seus defeitos. Perante tudo o que ouvia, nada a afastava do desejo de o ter mais perto, de se sentir nos seus braços, aconchegada pela sua ternura, absorvendo o seu hálito saboreando seus beijos, bebendo seu cheiro, ouvindo suas palavras que a entoação da sua voz tornava mágicas, pela riqueza dos sentidos que projectavam na sua mente, e vibravam em seu corpo.

Sentira-o bem física e emocionalmente algumas horas e ouvira-o em dezenas de outras, de tal modo que o seu som parecia, por vezes, surgir do desconhecido, fazendo-a tremer e olhar para todos os lados, como se sentisse na sua pele o toque dos seus olhos, observando de longe na escusa sombra de um qualquer espaço.

Ali olhando o mar tudo parecia fazer sentido. O horizonte sugeria-lhe esperar, não deixar que a passagem dos dias lhe tirasse a riqueza ao seu sonho. Quem sabe num próximo mergulho, ou no levantar dos olhos do areal, ele lhe surgisse sorridente enchendo o espaço com a sua presença e dizendo “Estou aqui para te ajudar a desenhar o futuro”.

Sem comentários:

Enviar um comentário