terça-feira, 12 de março de 2013

ToMAR DECISÕES



O mar cinzento pelo reflexo das nuvens, e a espuma branca das ondas em contraste com o plano do passeio definiam a linha do mar. As pessoas dentro dos carros observavam o espectáculo do mar que sobressaia entre a chuva intensa que caía. Ela era uma das poucas pessoas que de forma intermitente interrompia a sua observação, lendo o livro que tinha no regaço, ou dormitava, naquele cerrar de olhos leve que nos deixa entre este mundo e um outro que desconhecemos.
Na prática aquele estar junto ao mar, era uma forma de deixar correr as preocupações que a atormentavam e os sentimentos cada vez mais confusos que a trespassavam.
O clima emocional, não lhe permitia ter a melhor visão dos factos, o cinzento também pairava na sua cabeça, e se não surgir um arco-íris que de repente se sobreponha à tempestade, será difícil ultrapassar a angústia que a domina.

As decisões a tomar tão dolorosas e difíceis, e, por vezes inexplicáveis, são um tormento que se lhe depara. Por mais que se diga que a vida continua, na verdade, nada será como dantes. Sejam questões de ordem económica, sejam questões de ordem sentimental, elas exigem, não raras vezes, uma racionalidade que a deixa vazia por dentro, com marcas profundas, que mesmo com o correr dos tempos se tornem mais suaves, não deixam de periodicamente sangrar.
Ela gostaria de colocar um fim, ao seu desassossego, ficando liberta, mas ao mesmo tempo sente que lhe pode estar a fugir entre mãos algo mais valioso, que neste momento não consegue enxergar bem a sua dimensão. Daí o medo das decisões, o medo das escolhas. Sabe que os dias correm vertiginosamente e cada vez menos tempo e as oportunidades de ser feliz, realizar os seus projectos, alguns somente sonhados, vão escasseando. E o que pode acontecer, é de repente olhar para trás e encontrar um enorme vazio difícil de preencher.
É bom, quando se olha para trás, e se fica com a noção de ter tomado as decisões certas, no tempo certo, mas como ter a certeza, agora, perante os acontecimentos, de que está a decidir pelo mais certo?
Na verdade todos sabemos que por vezes é preciso arriscar e não ter medo. É no acerto e no erro, que se vai evoluindo, construindo futuro.

Olhou o mar e viu as ondas sucessivas que se iam desfazendo contra o muro, repetidamente cumprindo os ciclos. Ali estava o gráfico da sua vida, de sete em sete vem a onda maior, tudo muda de dimensão, os acontecimentos se manifestam de modo semelhante, mas nunca iguais. Uns dias na crista da onda, noutros bem em baixo nos pés da sua formação, mas todas elas no mesmo meio, a vida.

A decisão estava tomada, não deixaria que os acontecimentos matassem o sentimento que a mantinham viva. Tinha que aguentar um pouco mais, até que chegasse o momento em que o mar iria diminuindo o volume da ondulação, ficando quase um lago somente agitado pela brisa do entardecer, e procuraria gozar esse momento o mais tempo possível, porque bem o merecia.

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