quarta-feira, 30 de março de 2016

Tenho saudades de ti..




Nunca me lembrava do teu dia de nascimento, como agora nunca me lembro do dia, ou há quantos anos, partiste definitivamente.
Hoje o prazer de fotografar ausentou-se de mim, quando olhava o mar e caminhava na marginal, no mesmo lugar onde habitualmente fazíamos nas nossas idas a Viana. Ali cumpríamos o nosso ritual, Tomávamos o café no bar da praia, e depois caminhávamos, fotografando, e conversando da nossa ideologia e militância por um mundo melhor. Também falávamos da família dos amigos, e enquanto isso acontecia, íamos fixando os momentos que mais nos impressionavam no cartão digital da máquina. Tu, como eu, embevecidos pelo mar e seu fascínio e vivendo as coisas vulgares.
Nunca foste o irmão mais próximo, quando novos, preferias os teus amigos aos irmãos, embora as nossas diferenças de idades fossem mínimas. Não sei ao certo quando começou a mudança e o nosso melhor entendimento, mas sei que foi muito tarde. Talvez tenha sido quando o nosso irmão do meio ficou gravemente doente e acompanhamos de perto a sua dor até morrer, nessa altura possivelmente sentiste a sua falta e a importância de nos mantermos próximos. Ou talvez tivesse surgido depois daquele AVC, de que resultou a perda temporária da fala, Era bastante doloroso estar contigo, a dificuldade em nos perceberes, vinha no teu olhar angustiado, magoado, receoso, comunicando o teu vazio sem a fala. Com o correr dos tempos, com a tua força de vontade foste evoluindo e falando, trocavas os nome das coisas, mas já comunicavas. A fotografia foi o elo que nos foi aproximando com as nossas discussões entre o analógico e o digital e a duvidosa qualidade estética das fotos de casamento, As diferentes técnicas da fotografia, a cor, as capacidades de arquivo e produção no digital e a tua teimosia pelo método antigo das máquinas analógicas. As discussões politicas, também passaram a fazer parte do nosso aprofundamento e convívio de irmãos, nos almoços a dois que de quando em vez fazíamos. Desde essa altura, sempre que me deslocava a Viana para visitar os nossos outros irmãos, te tinha quase certo como companheiro de viagem, assim como o cheiro da tua água de colónia, que todos reconheciam, que impregnava o carro e era a tua marca de registo e tantas vezes motivo de galhofa entre nós. Ontem vim sem a tua companhia..
Sei uma coisa irmão ausente, hoje, o longe tornou-te perto, inesperadamente. Neste caminhar pela marginal, agora só, recordava esses momentos de partilha, e a saudade bateu, mais dolorosa do que nunca, deixando-me a navegar na tristeza, como se aquele mar me projectasse para o horizonte infinito e desconhecido... tenho saudades de ti.

Viana 27MAR16



2 comentários:

  1. Lindo...Sem palavras! Revejo-me um pouco nesta escrita! A distancia entre irmãos,que as vezes parecem desconhecidos.beijinhos

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  2. Muito bom....até o detalhe da água de colonia.

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