segunda-feira, 16 de abril de 2018

Escrita de orvalho




Agarro-me a longínqua esperança de que um dia estarás lá à minha espera, algures num lugar sem tempo, de respiração volátil, sem terra firme, antes com nuvens debaixo dos pés, naquele sentir fofo, agradável, de quem vive a concretização de um sonho de forma inesperada. Quero-te na dobra, dessa esquina do tempo, em que tudo nos surpreende, fascina e nos faz acreditar que não há coisas impossíveis, mas estórias que demoram mais a concluir. Aquela pedra, onde um dia tropeçaste, já não está lá, o tempo e a evolução tirou-a do caminho. Agora somente existe espaço verde, um lago, onde os patos e cisnes ensaiam mergulhos,  caminhos ensaibrados onde as crianças correm, adultos simulam fazer exercício e os avós de mão dada fingem-se namorar. Por isso, é mais fácil, agora, teres a certeza de que podes vir descalça de todas as preocupações, sem pose politicamente correcta. Ninguém quer saber. Só eu repararei nos teus pés descalços, nas unhas pintadas, na saia curta e leve, na camisola de linho, onde os seios desenham promessas, nos olhos claros e brilhantes, nas madeixas do  cabelo, que esvoaçando, desenham estórias no ar.
Não sei se notaste, mas estava a escrever-te, quase sem me aperceber que o fazia, tão comum é perder-me em ti, nesta viagem perene em que existimos. 

dc

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