Agarro-me a longínqua esperança de que um
dia estarás lá à minha espera, algures num lugar sem tempo, de respiração
volátil, sem terra firme, antes com nuvens debaixo dos pés, naquele sentir fofo,
agradável, de quem vive a concretização de um sonho de forma inesperada.
Quero-te na dobra, dessa esquina do tempo, em que tudo nos surpreende, fascina e
nos faz acreditar que não há coisas impossíveis, mas estórias que demoram mais a
concluir. Aquela pedra, onde um dia tropeçaste, já não está lá, o tempo e a
evolução tirou-a do caminho. Agora somente existe espaço verde, um lago, onde
os patos e cisnes ensaiam mergulhos, caminhos ensaibrados onde as crianças
correm, adultos simulam fazer exercício e os avós de mão dada fingem-se
namorar. Por isso, é mais fácil, agora, teres a certeza de que podes vir
descalça de todas as preocupações, sem pose politicamente correcta. Ninguém
quer saber. Só eu repararei nos teus pés descalços, nas unhas pintadas, na saia
curta e leve, na camisola de linho, onde os seios desenham promessas, nos olhos
claros e brilhantes, nas madeixas do cabelo, que esvoaçando, desenham estórias no
ar.
Não sei se notaste,
mas estava a escrever-te, quase sem me aperceber que o fazia, tão comum é
perder-me em ti, nesta viagem perene em que existimos.
dc
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