sábado, 4 de agosto de 2018

Recordar





Perante a mudez dos livros, que não lhe respondiam, embora companheiros nas horas de solidão e silêncio, decidiu passear pelos arquivos fotográficos, fugindo da inércia do sofá e das imagens da TV. Foi observando os vários arquivos e suas subdivisões. Ao fazê-lo reparou que “ela” se encontrava por lá, marcando seu espaço, em quantidade e variedade. No entanto, agora, não sabia como atribuir-lhe uma referência de identificação. As tomadas de imagem eram várias, umas tiradas perto, outras mais distantes, umas coladas a sorrisos, algumas nem por isso, umas mais vestida, outras menos. Algumas, conhecia a origem, fotografou-as ele, muitas outras, alguém terá sido, isso também não lhe importava, eram imagens. Nas imagens que ele fizera, sabia o que procurava, o momento que descreviam, a estória que contavam, ou se um simples registo do corpo, realçado pelos traços do lugar. Eram imagens pensadas para cumprir uma função, enriquecidas por uma hierarquia baseada na qualidade do registo e da motivação. A ideia era ficar com elementos de memória, que dessem suporte às vivências passadas, sem que a verdade e a realidade dos acontecimentos fosse perdida.
Manteve-as no arquivo. São resíduos contra a amnésia.

dc

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