Custava-lhe muito o
envelhecer. Olhava-se no espelho e as rugas marcavam o seu anoitecer. Não
adiantava se sentia vivo por dentro, se sorria e caminhava sentindo o vento, se
a força nas pernas não lhe faltava, se o coração ainda batia por aquela que o
entontecia e que tanto amava. Na verdade, envelhecia, inexorável a passagem do
tempo. No rosto as rugas marcam como trilhos, o mapa duma existência, cada uma
com a sua memória, mas não falam da riqueza das terras férteis, que dentro si ainda
existem para cultivar as emoções, os desejos, os projectos, ou, as rotas do sangue
quente que ainda circulam intensamente com a vontade e coragem de viver a vida.
Por isso, não havia razão para que a idade o intimidasse, a perspectiva de
vida, o tempo que ela dura e a sua qualidade, são tão relativas como muitas
outras coisas.
Importante é ter consciência de
que o amor acontece sem que se dimensione nenhum desses factores, tão comuns
que a sociedade tem por hábito rotular. Nem quando o corpo já não corresponde à
sua vontade, se deve desistir, há sempre alguma forma de dar asas ao pensamento
e ao sentimento que nos percorre desde o interior, fundo, de nós próprios.
dc
dc
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